terça-feira, 14 de agosto de 2012

Comparação esdrúxula

Um pensamento me veio na cabeça. Foi uma aversão a comparação (talvez seja um sentimento, mas não sei precisar a diferença exata entre os dois, então deixamos assim). Deve ter tido sua semente na disciplina de zooplantologia. Não sei dizer com certeza. Essas coisas que acontecem conosco, uma ideia vem e posa sobre nossa cabeça, como uma mosca. Há quem espante prontamente, alguns até lavam a cabeça, eu deixo lá, imaginem que às vezes a mosca põe ovos, larvas que me entram cabeça a dentro. E eu como hospedeira, e até anfitriã, comecei a observar, e como boa aspirante a cientista, tomar notas (mentais, é verdade, mas ainda assim, notas!).
É bem verdade e até indiscutível que não haveria o belo se não fosse o feio. Até ai tudo bem, afinal são dois conceitos construídos, não há problema em haver uma dependência mútua, eles foram feitos assim. Acontece que ficou fácil, sabem simples, e decidimos extrapolar e sair por ai comparando tudo e, o que é pior, todos. Ficamos viciados e dependentes de comparações de modo geral, a tal ponto que não sabemos avaliar, sem comparar. Ora, como é possível que tudo seja comparável? Não é, mas nós damos um jeito, para facilitar, simplificar, ajudar a tomar decisões, tirar vantagens, e por aí a fora.
Parece não ser tão prejudicial, correto? Pois saibam que eu, sim, mesmo com a mosca na cabeça eu fui vítima, ou algoz, de uma comparação, e trouxe para casa mexericas podres! Vejam bem, eu estava morrendo de vontade de comer mexerica, por aqui tem época de mexerica, e não estamos em tempo, mas eu via cascas por aí, vi na bolsa de uma amiga, sentia o cheiro, sonhava! E então, hoje no mercado, pensei que tinha de sair de lá com as desejadas mexericas... fui na gondola e reconheci que não estavam uma beleza, mas a vontade era tanta, fiquei olhando, apalpando, uma por uma, até que: "olha essa não tá tão molenga, não tem furos nem manchas acinzentadas". Continuei em busca de mais duas, ao menos mais duas, e encontrei! Maravilha! botei naqueles odiosos saquinhos, pesei e fui-me embora. Mas, eis que ao chegar em casa: "credo! essa mexerica tá podre!" será que ela veio apodrecendo no caminho? não amigos, 30 minutos a 20°C não apodrece ninguém, a mexerica estava exatamente igual no momento da compra, maaas, comparada com as outras ela estava ótima, mesmo estando péssima!
Para convencê-los da perversidade da mania/vício/dependência da comparação, permita-me lhes contar outra história, a do início, de zooplancton:
A matéria foi muito boa, eu estudei pra dedel e o professor era jóia, ainda assim, peguei exame! Tudo bem, tudo ótimo, mas não consegui notar em que poderia ter errado, então fui ter com o professor.
Ele me mostrou a prova, ao lado tinham três valores rasurados antes da nota final... e eu li a prova não tinha nenhum "x" vermelho... perante minha cara de "ãhn?!" ele disse:
-Olha Évellin, eu bem que tentei te dar a nota que você precisava (só aí já matou minha contra-argumentação se tem uma coisa que não quero é que me deem nota, ou eu conquisto ou não, mas enfim...) só que seria injusto com seus colegas. Veja, aqui você até cita as 3 funções que eu pedi, mas alguns colegas citaram todas as 9 funções e ainda as explicaram. Você me entende? Senti que estaria desmerecendo o esforço dos colegas.
Ok. Sem problemas, de 9 eu mal tinha conseguido lembrar 3, confessei para mim mesma que nem tinha certeza da terceira, eu tinha dado um tiro certeiro, mas que saiu pela culatra. Não sei de que lado vocês estão, se concordaram com o professor, se ainda acham comparação algo saudável e inofensivo, mas eu lhes digo o que depois vim a saber:
O colega que citou e explicou as 9 funções da patinha do bichinho havia levado para a avaliação um material de consulta, cola, para ser mais direta. Bom, então minha prova que na verdade estava correta e seria 10 numa avaliação imparcial se tornou 7, me levando a exame (uma vez que fiquei com 6,2 com a primeira professora)... 
Sinceramente, é muito ingênuo achar que podemos simplificar toda complexidade e individualidade de cada ser humano para simplesmente compará-los uns com os outros, e não apenas isso, fazemos isso com sistemas inteiros! Os mangues não são tão bonitos quanto praias dotadas de mata, então não precisamos deles, constrói-se aqui no mato fedorento esse rico porto que simboliza o progresso da nação. ignorando toda particularidade que apenas eles, os mangues, são capazes de fornecer. O estabelecimento de padrão ao invés de ajudar na tomada de decisão, prejudica.
Defendo a posição de que não é externa a avaliação que tens de fazer de si próprio. Quanto seus colegas de faculdade estão ganhando no momento não vai te deixar mais rico ou mais pobre. A massa muscular da tua amiga não vai te deixar mais forte. O tempo médio de corrida dos corredores de rua não vai te deixar mais veloz (talvez te infarte). Mas sim, o seu histórico e posição (como vc se sente) perante a teus próprios números (isso para aqueles que ainda precisam de números), suas particularidades.
De onde se conclui que comparação é uma avaliação parcial, simplista e esdrúxula baseada na falta de dados reais. E o individual não é apenas parte do todo.