Esse ano, dia 20 de maio completaremos, eu e meu companheiro e os dois amigos caninos, nossos 3 anos de Ilhabela. Parece que minhas raízes ainda estão meio aéreas, parece que ainda sinto os rizomas enterrados no interior, me afirmando os valores caipiras, pé vermelho. Quando corria descalça sobre as pedrinhas minúsculas, minha irmã dizia “você tem pé de peão, o meu é de princesa”, eu não me ofendia, sentia um orgulho, não sei porque. Me identificava mais com o peão do que com a princesa.
Sinto os rizomas nas areias do litoral gaúcho. Eu temi que
um dia me parassem de nutrir. A cada amigo que se mudava meu coração batia
forte, o medo como pano de fundo, medo de virar história distante e longínqua.
Constantemente me visitava tentando monitorar o quão gaúcha ainda sou. A cada
chimarrão preparado o alívio de ainda estar lá, de lá permanecer aqui. As
dunas, o céu, as chuvas, os ventos, o mar imenso. E as amizades tão
verdadeiras.
Por vezes me pergunto se não me fixar em uma cidade faz de
mim uma traidora oportunista? Por vezes sinto que essa mistura de experiências,
de vivência, de raízes me compõe. Mês a mês me percebo incorporando a bela
paisagem da ilha, as transparentes águas marinhas aos poucos tornando-se parte
de mim, o frescor das cachoeiras. Os picos tocando o céu, as matas a sustentar
todo esse microclima.
E o que mais me pega, onde mais me identifico, o que mais
admiro é a diversidade! Diversidade de cores, sotaques, histórias, pensamento,
renda, modo de vida. Parece o acaso ter sido muito caprichoso ao compor a
população. Um pouquinho de cada coisa. Negros a narrar os usos dos grilhões, da
história escravocrata, ainda tão latente, mineiros, nordestinos, lindas pessoas
vindas do norte do país, ou por acaso ou a buscar, buscar o Estado presente,
dinheiro, qualidade de vida. Argentinos, paulistanos. Milionários com casas
gigantescas que raramente vem a passear com seus carros importados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Nos eduquemos juntas.