As ideias não precisam de palavras. Elas entram pelas miradas. Eu mirava, mais do que era mirada, e isso foi o bastante pra fortalecer o meu espírito, sem que eu nem sequer imaginasse. Caí no mundo sem a potência que eu intuitivamente sabia ter. A racionalidade me fechava a porta. E quando se tratava da minha história eu era posta no lugar frágil da falta.
E assim como no natal um enorme patriarca fantasiado silencia o homem corajoso que inspira mentes por séculos, as palavras "violência, loucura, promiscuidade, alcoolismo, pobreza, homicídio, feiura, vulnerabilidade" foram postas na minha história e silenciaram a força, a potência, a resistência, a camaradagem, a coragem, a autenticidade dos meus ancestrais. Mas esses valores são maiores que quaisquer palavras justapostas numa narrativa hegemônica e me chegaram, como um legado, me entraram pela mirada corajosa do espírito que quer vida.
E eu resisto, resisto e desfruto. Desfruto do prazer de me reconhecer classe trabalhadora, e por isso mirar os iguais e ser mirada pelos corajosos. Anseio pelo dia em que nos reconheceremos fortes para juntos dos libertarmos dessa ardilosa opressão.