Anoiteceu.
O céu estava estrelado e não
acendi fogueira. Amarrei uma rede, deitei esticando as pernas. Antes que meu
olhar abrisse o caminho pra minha alma brincar entre as estrelas, o som das
criaturas sombrias me pôs no chão. Meu coração pulsava forte, precisei controlar minha respiração. Me agachei e esperei em silêncio absoluto até que ela passasse próximo de mim. Então, em um único movimento agarrei seu rabo. Era grande e assustadora, com garras e dentes afiados. Como se sabendo que eu não soltaria ela voltou seu rosto pra mim, e eu olhei bem dentro dos seus olhos, até que me dissesse de qual buraco
ela havia saído. Só daí a deixei ir.
Aquele buraco.
Eu já havia estado naquele buraco
antes, sem ter visto seu fim. Preparei uma lanterna, juntei três ou quatro
cordas, peguei frutas e água. Na entrada da caverna atei uma das pontas da
corda e entrei. Era uma caverna realmente muito profunda, e as feras haviam cavado
suas paredes, abrindo longas tocas em várias direções. Passei dias na
toca. Dessa vez havia levado provisões o bastante para conhecer todos os seus meandros. E eu andei, andei, até conhecer todos os seus caminhos.
Quando saí o Sol forte machucou
meus olhos. E foram minhas pálpebras vermelhas que os protegeram. Fiquei assim, sendo acariciada pelo calor amigável. Meus pés descalços percebiam a temperatura e
a umidade da terra, os sons da mata me eram ainda mais familiares e
confortáveis agora, que eu a conhecia mais profundamente.