sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A limpeza étnica e social

Balneário Cassino... o pouco que sei o balneário foi constituído para ricos usarem da hidroterapia, segundo meu professor de história havia a recomendação de 3 imersões totais pela manhã, às 6 horas da manhã. Havia bonde para trazer a elite, construiu-se nobres hotéis para atender o nobre público.

Atualmente, a estação de trem virou um museu esporádico, que às vezes abre no verão. O bairro, quando me mudei em 2007 era composto basicamente de estudantes e aposentados (alguns dos quais, imagino, com ares de antiga realeza), e tinha algumas lojinhas e restaurantes que em sua maioria abriam apenas no veraneio.

Por essa mesma época, Rio Grande recebeu a "grandessíssima oportunidade" de receber um pólo naval, capaz de sacudir a cidade e trazer a palavra tão querida desenvolvimento. Acontece que ou não sabem ou não querem saber que o que os tomadores de decisão chamam de desenvolvimento é na verdade crescimento. E então, fomos obrigados a assistir um dia após o outro a chegada de ônibus recheados pessoas em busca de uma boa oportunidade de emprego (mas, que na realidade são constrangidos a atuar como mão de obra barata oriunda da periferia de outros estados). Esses camaradas foram obrigados a dividir um quarto entre dez, e nós, pacatos cidadãos pudemos assistir os valores dos alugueis e imóveis triplicarem, obviamente sem nenhuma melhora na infraestrutura. Estrada perigosa, um mísero postinho de saúde, 2 escolas pequenas e precárias, ausência de rede de esgoto, transporte público caro e ineficiente e por aí a fora. Ou seja, um baita desenvolvimento.

Mas o show tem que continuar. E Rio Grande, crescendo como está atraiu para a nossa grande sorte e alegria (sqn) dois shoppings centers. E sabe como é, temos que repensar a cidade. Vista para o mar é algo que cativa. Uma das famílias que explora a cidade, digo que gera empregos, tem um terrenão na beira do mar dando sopa, já foi parque de diversões, já teve aqueles espaços de verão, é usado anualmente para a grande festa de iemanjá que atrai visitantes de todo o estado (uma classe de visitantes não muito bem vista pela elite). Por ali também funciona uma rodoviária que pessoas de baixa renda usam para se locomover. Para "valorização" (puramente econômica)  da região essa rodoviária já está sendo mandada para longe.

E segundo o presidente da ONG Nema, em 2011 o plano diretor do município foi alterado. Veja, havia um grupo de mais de 20 instituições trabalhando nesse plano, quando uma reunião a portas fechadas, composta por alguns membros desse conselho, alterou o plano (sem o consentimento das instituições que vinham trabalhando nele), e qual foi a alteração? Bem, se antes só se permitiam prédios de 4 andares na beira da praia, hoje podem-se erguer grandes edifícios de 16 andares. Mas, calma, apenas na região "polo 2", justamente onde por grande sorte do destino nossa querida família Guanabara tem o seu terreno!

E então, depois de 3 grupos projetarem CINCO PRÉDIOS DE 16 ANDARES NA BEIRA DA PRAIA, e divulgarem em imobiliárias, e colocarem outdoor  no terreno com contato (possivelmente estudando o mercado) houve ontem uma audiência pública, muito mau divulgada. E lá fui eu...

Ouvir que o cassino vai ter a oportunidade de ver um prédio moderno, com estudo paisagístico. E que haverão 600 vagas e mais de 1.000 moradores. Aberto para intervenção, as dúvidas iniciais foram sobre o esgoto, uma vez que o esquema em todo o bairro (com exceção de duas ruas) é por fossas. Segundo o empreendedor haverá ligação com a estação de tratamento, o que muito nos estranha, pois segundo uma moradora contemplada com esse tratamento disse que seu primo que mora a meia quadra da rede procurou a corsan, dizendo que pagaria a instalação necessária e obteve a resposta de que não seria possível ter seu esgoto tratado. Questionou-se também como seria o abastecimento de água e energia, uma vez que é muito comum haver interrupção destes. Num dos comentários o empreendedor disse que não cabe a eles resolverem esse problema. Acontece meu amigo, que se não há a possibilidade de atender o que já está o que dirá enfiar mais 1000 pessoas.

Diria eu que 99% dos presentes estavam extremamente descontentes com o empreendimento. Houve nas manifestações referências ao fato de que, usando um marketing da apresentação, o prédio seria o céu dos moradores e o inferno dos cassinenses. Isso porque quem mora a 40 anos aqui e está acostumado a abrir a janela do segundo piso e ver o mar, vai agora ter a oportunidade de ver uma moderna parede. Quem surfa, caminha, anda ou pedala pela praia vai poder ver de qualquer lugar o belíssimo empreendimento, que vai fazer uma sombra monstruosa na já tão fria praia. Além de canalizar o vento e oprimir os transeuntes, mas segundo o empreendedor, até as árvores estão acostumadas, quando uma cresce mais faz sombra, e elas convivem harmoniosamente, oras.

Os corretores também se manifestaram, quando muitos questionaram o valor dos imóveis que seria para poucos e em nada iria resolver o deficit habitacional da cidade, que está tenebroso, como disse, os aluguéis caríssimos proibitivos para quem vive com um salário mínimo. A resposta foi "não sejamos ingênuos, essa área tem um valor maior", a corretora ainda disse que estávamos (nós que nos opomos ao empreendimento) sendo egoístas, pois já temos nossa residência e tem muito estudante que a procura para comprar algum imóvel (possivelmente não no valor de 400.000 reais, mas enfim). E uma sra megablaster reacionária ainda disse que esse empreendimento traria oportunidade de emprego para os que não tem educação para serem mais do que faxineiros mesmo. Bem, a oposição não é exatamente de que se construa novas moradias (embora esse inchaço não esteja sendo nada positivo), que se fizessem prédios menores, como os que já pululam no bairro, ou afastados do mar. Mas, se apropriar da praia, da vista dessa forma?! Qual o ponto mais positivo do Cassino que não sua atmosfera tranquila? Agora um alô para reacionaríssima amiga do HU...

Minha senhora, se tu e uns tantos pensam que remover a rodoviária e criar uma atmosfera hostil vai fazer com que os não herdeiros (ou pobres) fiquem afastados, quietinhos em suas casas, que aceitem pacificamente sua exclusão, e venham apenas para trabalhar, em péssimas condições como já ouvi inúmeras queixas, nos caixas do super guanabara, ou fazer a faxina no prédio guanabara, ou recolher o coco do cachorro da sra e de suas amigas, me desculpe, mas acredito que a sra vive num mundo que não existe.
Favelização semelhante marca a história de toda nossa costa, tendo morado no Rio de Janeiro a sra deveria saber. E o resultado é apenas o óbvio aumento da violência. E pode erguer muro, colocar cerca elétrica, câmaras, segurança particular, chamar o diabo, nada adianta. Porque é um cenário de exclusão construído para isso. Pensar num bairro zoneado entre ricos com acesso a infraestrutura e pobres (que, meu deus, vocês que reclamam das ruas do cassino, já andaram no querência depois de chuva?!) e pensar que a única relação pacífica será o agradecimento pela oportunidade de servir de mão de obra é NOJENTO.

ps.: a audiência pública foi de caráter consultivo. ou seja, cerveja!

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A depressão feminina

Nós mulheres somos reconhecidamente mais sensíveis. Mulheres choram. Ah! é porque temos um coração puro. A partir da adolescência temos mais propensão à depressão. E somos campeãs na tentativa de suicídio.

A explicação fácil vem embrulhada num papel de presente. Sabe, é natural. São nossos hormônios. É a TPM, ou seria devido a ausência dos neurônios?

100% de todas as mulheres que consultei direta ou indiretamente não estão satisfeitas com seu corpo. E eu me incluo nessa estatística, não exatamente por não estar satisfeita, mas desde que me tornei vegetariana, uns 5 quilos se sublimaram do meu corpo, e por mais que eu coma feito uma louca  não há meio de fazê-los retornarem (e como inclusive chocolate e alimentos refinados não saudáveis, os quais eu gostaria de evitar, mas como estou tentando engordar para o verão consigo devorar uma barra de chocolate em alguns minutos, algo absolutamente nojento para a minha filosofia de vida). E repito, tanto faz como tanto fez para mim, eu me sinto bem assim, o problema é que só de pensar que irei encontrar minha família no natal e que antes (de emagrecer) a primeira coisa que me diziam era "como você está magra!", em tom de aprovação, e esse comentário era repetido mais do que eu gostaria, fico imaginando o quanto terei de ouvir agora, que se pode ver os ossos do meu ombro e externo... Me dá pânico, pensar em ouvir repreensões, o pior, a crítica a minha dieta, que me deixa tão feliz comigo mesma... Esse conflito bobo me desanima a ponto de por vezes pensar em passar o natal e virada de ano longe, a ponto de passar alguns minutos olhando o guarda-roupas pensando o que posso vestir para não passar calor mas deixar minha magreza passar desapercebida.

E esse constante conflito interno me faz querer subir pelas paredes quando ouço mulheres lindas se auto desaprovando, se considerando gordas. Pensei então, que por mais que milagrosamente que engordasse, não seria exatamente onde se expõe meus ossos pontudos que se concentraria a gordura adicional, seria na barriga, na buzanfa e eu seguiria fora do padrão inalcançável de beleza feminina.

Essa ditadura que impõe a uma mulher que jamais se satisfaça realmente com seu corpo, seu cabelo, seus pelos, suas rugas, seu comportamento, seus desejos é certamente muito mais responsável pela histeria, sensibilidade, irritabilidade, depressão femininas do que qualquer variável biológica.

E impor essa reação como algo natural da mulher é ainda mais cruel.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

você é mil reais legal

economicismo.

Não sabemos o valor de nada, mas sabemos o preço de tudo. O custo do serviço ambiental dos oceanos é de 2 trilhões de dólares! Ainda estou tentando entender o que significaria isso. Acho que seria como dizer: gosto 300 mil reais de você. Penso que analisar as coisas em valores e gráficos é tão simplista que tem nos deixado burros, e obcecados em simplificar as coisas para a superioridade do valor monetário, para a Lei suprema do custo-benefício. Temos que comparar as coisas e fazemos isso em cash. Eu lembro de sair de alguns encontros com amigos e comentar com meu namorido, "valeu a pena ter gasto x com isso". Com o tempo, observando, lendo, pensando, meditando, me dei conta o quão mesquinho é avaliar as coisas por dinheiro, ir esperando que um encontro seja pelo menos "20 reais legal". E fui me libertando desse tipo de julgamento, ainda penso em valores monetários porque ando obcecada por quem não tem dinheiro. Quando me dizem de um curso, um isso, um aquilo eu só penso, se não fosse pela minha bolsa eu não poderia saber yoga, aprender sobre culinária vegetariana, viajar... se eu não tivesse um número de matrícula da FURG não poderia retirar livros. LIVROS!

Ontem saímos de uma palestra sobre PSA, pagamento por serviços ambientais. Eu olhava para a mulher da Embrapa, lia os slides, olhava para o lado, anotava alguma coisa, riscava, tornava a ouvi a mulher, sentia uma coceira. Tentei elaborar uma pergunta, tentei formar uma opinião, e nada! Pensava "cérebro preguiçoso, acho que emburreci... foi de tanto procrastinar, só pode". Quando terminou a palestra e eu me senti muito mal por me sentir aliviada (como quando terminava a aula na 6ª série) abriu-se para as perguntas e meu desespero aumentou, as pessoas se interessavam e faziam perguntas e se entendiam! Eu olhava para um, conseguia distinguir uma frase ou outra, mas parecia que falavam coreano.

Para o meu enorme alívio, minha amiga, que parece ter uma linha de raciocínio um pouco semelhante a minha me cutucou e falou: "Você também não acha que isso está muito coisificado?" 79 quilos sublimaram de meus ombros naquele exato instante. Apesar de não saber bem o que ela quis dizer com "coisificado". Respondi feliz que sim, e clamei para ela "fala com a moça, faz uma pergunta" tipo traz essa galera para onde eu possa alcançá-los. Ela me olhou com cara de reticências e eu falei "não dá nem para elaborar pergunta, né?!".

A ideia é a seguinte identifica-se o serviço ambiental de um determinado bioma, diagnostica as ameaças ou o motivo de degradação, e intervém monetariamente sobre essa ameaça. Ela deu um exemplo muito infeliz de um proprietário que cria gado, e não respeita a APP, prejudicando assim o recurso hídrico. Então, o governo paga para que ele cumpra a lei, cerque a área, replante e pode até pagar pelo que ele deixou de produzir! Putz, isso nem no meu maior pesadelo parece uma boa ideia. Jura por Deus que aquela mulher estava falando com esperanças e que nós estávamos numa sala debatendo esse assunto? Que por sinal é Projeto de Lei...

Eu ainda tentei num ato de desespero mostrar o que estava se passando comigo naquele instante. Enquanto eles debatiam que ainda precisava definir de onde sairia essa verba, um dizia "do fundo de meio ambiente", outro dizia "dos royalties", eu me contorcia. E me expressei mal quando disse, meio berrando enquanto meu coração fazia o favor de mandar todo meu sangue para minha fuça, "os beneficiados deveriam pagar, a indústria leiteira, ou no exemplo que o amigo deu que o porto pagaria para amenizar o assoreamento na bacia... o..." eu ia continuar meu argumento quando a mulher me cortou e disse "eu vou falar sobre isso". Sobre o exemplo, mas o que eu gostaria de dizer é que isso só pode fazer algum sentido quando se encontrar a causa da pressão. O camarada não planta fumo para vender na feira, ele planta para alimentar a indústria do tabaco. A multinacional Suíça (Nestlé) exerce muita influencia e pressão nos pequenos produtores. Então, como é que o governo vai pagar (continuar pagando) para uma pressão que não é nossa (nós aqui somos os pagadores de imposto)? Que se cobrasse uma taxa de serviços ambientais sobre as indústrias que geram essa pressão.

Ai, minha filha, mas daí fica muito caro produzir. Eles já tem que pagar tanto imposto, tanta taxa...

Ué, como caro? Fica o preço real. Se internalizar custos torna um modo de produção inviável é porque ela JÁ É inviável. Assim, como os subsídios fantasiam um lucro irreal na pesca. Assim, como se a levis resolver internalizar o custo de despoluição, pagar salários justos, respeitar direitos humanos ela quebra!

Ok, querida, mas e se esse modo é inviável vamos ter que parar de tomar leite? Parar de usar calça jeans?

Bem, essa opção me parece mais adequada do que seguir explorando mão de obra escrava, cuspindo no termo "direitos humanos" em busca do país mais miserável (ou de tornar um país miserável) para levar a grande oportunidade da vida deles de trabalharem como escravos (isso é gerar emprego), seguir poluindo e contaminando. Maaas... penso que não chegamos "tão longe" em termos tecnológicos para termos que voltar a andar nus, e investir todo nosso tempo cultivando nosso próprio alimento. Penso que podemos encontrar uma outra alternativa para isso. Não travestir o velho de novo.

Mas, para tornar viável a elaboração e execução dessa alternativa temos que nos dar conta de que esse desenho de sociedade é insustentável. E que nada vai mudar isso, pode inventar a lei que for, pagar o quanto quiser, valorar o que for. Enquanto os verdadeiros poluidores seguirem inatingíveis nada vai mudar de fato e vamos ficar só tapando buraco, e para cada buraco tapado abre-se mais 10.

Se tem uma sugestão de pós-capitalismo que eu gosto é o do Projeto Venus.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Panaceia utópica.

Sabemos claramente que estamos nesse exato momento enfrentando uma grave crise sem precedentes. Não é apenas uma crise econômica, social ou cultural. Conseguimos superar essas misérias que assolam populações a milênios e chegamos ao cúmulo de uma crise ambiental global. Imagino que não hajam muitos céticos que neguem o quão tenebroso está o cenário atual. Ou há?

Será necessário mostrar fotos do smog monstruoso que ocorreu na China essa semana?
Fonte: BBC-Uk
Ou as matérias sobre os níveis alarmantes de radiação na Califórnia graças ao vazamento de Fukushima? Será preciso dizer da poluição aquática, atmosférica, ou do solo graças ao volume absurdo de agrotóxico que as plantações geneticamente modificadas exigem? Será preciso um vídeo mostrando albatrozes numa ilha longínqua morrendo pela ingestão de plástico?

Sem falar sobre o que estamos fazendo nossas crianças se tornarem. Isso é, como estamos vivendo nossas vidas, com base no consumo, no status, na busca cega pelo ter. No desenvolvimento tecnológico que gere lucro, e sirva para aumentar o consumo, ou você pensa que os óculos Google vão te tornar um ser humano melhor? Ou pior, a tecnologia na busca do aumento de controle, a serviço do desenvolvimento bélico. Muros altos, com cerca elétrica, para proteger o que exerce influência graças ao seu poder de consumo da escória, que não consome e nem tem acesso à informação, cultura, educação, saúde.

Nossa sociedade está em crise, por mais que você esteja muito contente por ter conseguido comprar algo que você queria e assim, não precisa pensar na crise. Por mais que você esteja encantado com sua pesquisa, com seu novo trabalho, namorado. Por mais que você esteja nesse exato momento muito feliz, nós estamos em crise, num mundo doido, com regras que não merecem ser cumpridas.

E como resolver esse pepino? Seria investindo na educação? Você considera a educação na Alemanha boa? Então que tal dar uma olhadinha no documentário O Pesadelo de Darwin e ver da onde vem o peixe que a população bem educada consome. Seria criando leis de comércio justo, leis anticorrupção, ou medidas que limitassem o lucro, dividindo o dinheiro entre todos. Será que isso realmente funcionaria?

Desconfio que não. O sistema econômico é baseado em dívida e escassez. Algo se torna mais valioso quanto menos pessoas tiverem acesso a ele. A escassez aflora as mazelas dos animais, precisamos garantir o que é "nosso", nos tornamos agressivos, competitivos, insensíveis, egoístas. Sim, algumas pessoas não, mas são poucas, em comparação com as demais. Isso gera um modo de pensar, comportar e sentir que acaba acarretando todos os outros problemas, desigualdade, injustiça, preconceito, poluição, depressão, altos índices de suicídio, violência.

Meu professor, o mentor do meu curso de mestrado, tem uma matéria muito legal em que ele indica artigos de gerenciamento costeiro e debatemos. Ele, eu diria, tem fé no sistema, acredita em leis, em programas, e projetos para ir melhorando realidades. Sempre tendemos a ir fundo no problema de cada artigo, e ele tem que reconduzir a conversa, porque sempre chegamos no mesmo poço sem fundo "economicismo". O sistema monetário é um grande problema.

Isso eu já desconfiava antes de entrar no mestrado, foi por isso que colei numa guru da economia para pedir orientação. Acreditava eu que "internalizando" custos, tornando empresas verdes, tornando a Economia Verde chegaríamos a uma solução. O que fui encontrando pelo caminho me desiludiu muito, não existe empresa verde (talvez algumas poucas exceções) mas a maioria pratica o greenwashing para vender mais (algo nada sustentável) nenhuma empresa vai fazer uma campanha para que você compre menos. A certificação ambiental parece ser mais um modo de o dinheiro escapulir dos países pobres para se concentrar na sede das benevolentes ONGs que desenvolveram o marketing.

Conclusão, essa economia tem que mudar, não se adaptar feito um camaleão devorador de almas. Porque temos fronteiras? Fazendo com que gastemos fortunas com exércitos, marinha, aeronáutica, guerras infindáveis. O que faz com que países influentes e experientes nessas regras de merda suguem o recurso dos outros, desde o seu "descobrimento". Sendo que somos todos seres da mesma espécie...

Não podemos ter fronteira se quisermos de fato nos desenvolver como seres humanos. E nem podemos perder tempo e energia buscando comida (trabalhando incessantemente para garantir o passaporte para alimentação), razão tinha o Fernão Capelo Gaivota. Já produzimos alimento capaz de alimentar 12 bilhões de pessoas (estamos em 7 sendo que agora acaba de morrer um de fome, enquanto outros milhões estão subnutridos). Temos tecnologia o suficiente para abolir a maioria dos empregos entediantes e pesados.

E se não houvessem fronteiras? E se não houvesse dinheiro, e o alimento, e bens produzidos com alta tecnologia estivesse acessível a todos? E se a economia fosse baseada em recursos? E se todos tivessem moradia, acesso a saúde e a temas culturais diversos que lhe interessassem? E tempo livre para desenvolver habilidades e contribuir no progresso cultural?

E se eu te dizer que esse mundo já tem até maquete?
Acesse http://thevenusproject.com/ e comece a pensar como seria o mundo se a tecnologia estivesse a serviço de todos os seres humanos.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Mulheres têm escolha?

Do alto da minha rasa experiência no feminismo, identifiquei um conflitinho básico. Pelo menos entre as feministas de facebook e blog. É o fato de buscar-se uma identificação entre as feministas.

Fica no ar uma ideia de que feminista que é feminista não pode se depilar, tem que ter parto normal, ou nem ter filho, deve trabalhar fora, repugnar sutiã. 

Bem, só de ler a frase acima você já sentiu como soam absurdas essas exigências não é mesmo? E ao meu ver toda e qualquer exigência que se imponha a uma mulher é machista. Sempre que rola um post no face tratando de pelos em axila feminina é o maior bafafá, existem até ofensas. E normalmente não é um post que use um verbo no imperativo "deixe as axilas peludas" ou "não depile", nada disso, é simplesmente uma alusão à possibilidade de se fazer isso. 

Num post no blog da Lola, uma mãe que trabalha fora optou por realizar cesária e se sentiu ofendida pela luta das feministas pró parto normal. Nessa resposta uma ativista explica que o problema não é optar por realizar cesária com base em informações confiáveis, variáveis e de qualidade, o problema é que uma esmagadora de mulheres são levadas a optar por esse modo mais rápido e prático, para o médico.

O problema não é a sua escolha em si, mas o porque de você ter feito essa escolha. E esse motivo está diretamente relacionado à acesso de informação, e o direito a ter escolhas.

Algumas mulheres afirmam que depilação é uma questão de higiene! No buço? No braço, na perna? E essa afirmação é baseada em alguma pesquisa científica? Será que a concentração de bactérias é maior em regiões com pelos? Mesmo quando me depilo preciso usar desodorante, então há bactéria, igualmente. E porque vc tem mais nojo do pelo feminino que do masculino?

Seria então uma razão de estética, mas é um padrão seu? É claro que não, pois se fosse vc não veria problema em deixar os pelos crescerem e ir a público e ver se de fato acha mais ou menos feio... Afinal, cabelo é pelo, escorre durante o banho, cai na comida, fica oleoso ao longo do dia, mas não há depilação nessa área.

Então, depilar é uma escolha que já foi feita, antes de você saber o que era isso. Não há opção.

E isso talvez seja um efeito de termos sido criadas para sermos bonitas. E nós mesmas contribuímos com essa educação ao não resistirmos de elogiar a beleza de uma guriazinha, invés de perguntarmos a respeito do que ela pensa. O que fica bem ilustrado nesse texto:

Como conversar com meninas

Eu fui a um jantar na casa de uma amiga na semana passada, e encontrei sua filha de 5 anos pela primeira vez. A pequena Maya tinha os cabelos castanhos e cacheados, olhos escuros, e estava adorável em seu vestidinho rosa e brilhante. Eu queria gritar, “Maya você é tão fofa! Veja só! Dê uma voltinha e desfile esse vestidinho rosa, sua coisinha linda!”
Mas eu não fiz isso. Eu me contive. Como sempre me contenho quando conheço garotinhas, negando meu primeiro impulso, que é dizer o quão fofas/lindas/bonitas/bem vestidas/de unhas feitas/cabelo arrumado elas são/estão.
“O que há de errado nisso? É a conversa padrão de nossa cultura para quebrar o gelo com as meninas, não é? E por que não fazer-lhes um elogio sincero para elevar suas auto-estimas? Porque elas são tão lindas que eu simplesmente quero explodir de tanta fofura quando as encontro, sinceramente.”
Guarde este pensamento por um tempo.
Esta semana a ABC News informou que quase metade das meninas de 3 a 6 anos se preocupam por estarem gordas. No meu livro, Think: Straight Talk for Women to Stay Smart in a Dumbed-Down World, eu revelo que 15 a 18% das meninas com menos de 12 anos usam rímel, delineador e batom regularmente; distúrbios alimentares estão em alta e a auto-estima está em baixa; e 25% das jovens mulheres americanas prefeririam vencer o America’s Next Top Model a ganhar o prêmio Nobel da Paz. Até universitárias inteligentes e bem sucedidas dizem que preferem ser ‘gostosas’ a serem inteligentes. Recentemente uma mãe de Miami morreu durante uma cirurgia estética, deixando dois filhos adolescentes. Isso não pára de acontecer, e isso parte o meu coração.
Ensinar as meninas que a aparência delas é a primeira coisa que se nota ensina a elas que o visual é mais importante do que qualquer outra coisa. Isso as leva a fazer dieta aos 5 anos de idade, usar base aos 11, implantar silicone aos 17 e aplicar botox aos 23. Enquanto a exigência cultural de que as garotas sejam lindas 24 horas por dia se torna regra, as mulheres têm se tornado cada vez mais infelizes. O que está faltando? Um sentido para a vida, uma vida de ideias e livros e de sermos valorizadas por nossos pensamentos e realizações.
Eu me esforço para falar com as meninas assim:
“Maya,” eu disse, me ajoelhando até ficar da sua altura, olhando em seus olhos, “prazer em conhecê-la”.
“O prazer é todo meu,” ela disse, com a voz já bem treinada e educada para falar com adultos como uma boa menina.
“Hey, o que você está lendo?” Perguntei, com um brilho nos olhos. Eu amo livros. Sou louca por eles. Eu deixo isso transparecer.
Seus olhos ficaram maiores, e ela demonstrou uma empolgação genuína, mas contida, sobre o assunto. Ela pausou, no entanto, tímida por estar com um adulto desconhecido.
“Eu AMO livros,” eu disse. “E você?”
A maioria das crianças gosta de livros.
“SIM,” ela disse. “E agora eu consigo ler sozinha!”
“Que incrível!” eu disse. E é incrível, para uma menina de 5 anos.
“Qual é o seu livro preferido?” perguntei.
“Vou lá pegar! Posso ler pra você?”
Purplicious foi a escolha de Maya, um livro novo para mim, e Maya se sentou junto a mim no sofá e leu com orgulho cada palavra em voz alta, sobre a nossa heroína que adora rosa mas é perturbada por um grupo de garotas na escola que só usam preto. Infelizmente, o livro era sobre garotas e o que elas vestiam, e como suas escolhas de roupas definiam suas identidades. Mas depois que Maya virou a última página, eu conduzi a conversa para as questões mais profundas do livro: meninas más e pressão dos colegas, e sobre não seguir a maioria. Eu contei pra ela que minha cor preferida é o verde, porque eu amo a natureza, e ela concordou com isso.
Em nenhum momento nós discutimos sobre as roupas, o cabelo, o corpo ou quem era bonita. É surpreendente o quão difícil é se manter longe desses tópicos com meninas pequenas, mas eu sou teimosa!
Eu falei para ela que eu tinha acabado de escrever um livro, e que eu esperava que ela escrevesse um também, algum dia. Ela ficou bastante empolgada com essa ideia. Nós duas ficamos muito tristes quando Maya teve que ir pra cama, mas eu disse a ela para da próxima vez escolher outro livro para lermos e falarmos sobre ele. Ops! Isso a deixou animada demais para dormir, e ela levantou algumas vezes…
Aí está, um pouquinho de oposição a uma cultura que passa todas as mensagens erradas para as nossas meninas. Um empurrãozinho em direção à valorização do cérebro feminino. Um breve momento sendo um modelo a ser seguido, intencionalmente. Meus poucos minutos com a Maya vão mudar a multibilionária indústria da beleza, os reality shows que diminuem as mulheres, a nossa cultura maníaca por celebridades? Não. Mas eu mudei a perspectiva de Maya por pelo menos aquela noite.
Tente isto da próxima vez que você conhecer uma garotinha. Ela pode ficar surpresa e incerta no começo, porque poucos perguntam sobre sua mente, mas seja paciente e insista. Pergunte-a o que ela está lendo. Do que ela gosta ou não gosta, e por quê? Não existem respostas erradas. Você apenas está gerando uma conversa inteligente que respeita o cérebro dela. Para garotas mais velhas, pergunte sobre eventos atuais: poluição, guerras, cortes no orçamento para educação. O que a incomoda no mundo? Como ela consertaria se tivesse uma varinha mágica? Você pode receber algumas respostas intrigantes. Conte a ela sobre suas ideias e conquistas e seus livros preferidos. Mostre para ela como uma mulher pensante fala e age.
essa versão eu encontrei no blog L'objet Trouné, nesse link.