Muitas mentes criam um sonho. Como um vaso de cerâmica feito por muitas mãos. E também os sonhos se quebram. Os pedaços não podem ser varridos e descartados. Eles pairam nesse espaço, “não espaço” de nossa nuvem psíquica. Como satélites inutilizados que orbitam a exosfera. Só que os pedaços de sonho são tão preciosos, se relacionam entre si, tem memória. As exosferas das psiques se juntam, e os sonhos orbitam de uma para outra.
Quando eu menos esperava me deparei com o mesmo sonho, velho,
antigo, quebrado, ali, a mesma forma, completa, pairando no meu “não espaço”.
Ainda é tão lindo, mesmo com tantas rachaduras. A mesma forma. Com a diferença
que não era uma peça só, os cacos não estavam fixos, apenas juntos. Achei que
jamais assumiriam a mesma forma. Mas, lá estavam eles, pedaços de um mesmo sonho unidos pela memória
do que foram.
A surpresa me paralisa, não tenho reação, só olho. E choro.
Eu não sei. Não sei se gosto, não sei se preferia não ter participado da criação desse sonho. É
tão bonito. Não tenho a cola capaz de fixar esses cacos. Se tivesse uma
brilhante, que não escondesse a junta. Eles vão se separar. Me resta confiar nos cacos,
em como eles sabem dançar pelas psiques, se exibir para as que os reconhecem. Quero perceber cada movimento.
Quem sabe se juntem em outra forma. E possamos aparar as arestas, construir
novos pedaços, encaixes. Gostaria de não estar só.
Por ora vou mesmo sentir o preenchimento que o sonho traz. A forma, a rachadura, o
afiado das pontas quebradas. A beleza do encaixe perfeito, a diversidade dos
cacos.