quarta-feira, 19 de maio de 2021

PHILIA

Me deparo com um prazo. Preciso responder o "fórum" em 1 hora, sobre a teoria apresentada em uma apostila de 60 páginas. Com o tanto que o coração batia eu mal conseguia ler a proposta da pergunta que era a seguinte:

A proposta do Fórum é aproveitar os conteúdos das Unidades anteriores, como os conceitos de imaginação sociológica de Charles Wright Mills e o de relações líquidas de Zygmunt Bauman, e aplicá-los na discussão sobre as (im) possibilidades de ressignificarmos o conceito grego de philía às relações sociais da contemporaneidade. Traduzido como ‘amizade’, o conceito grego contempla em seu multifacetado significado uma enorme complexidade de compromissos entre os que se unem por ele. Lealdade, companheirismo, empatia, parceria. Considerando essas reflexões, discuta no Fórum com seus colegas e professor(a):

1 - Seriam essas facetas possíveis em nossas frágeis relações contemporâneas? Por que?

2 - Existiria philía possível entre as pessoas nos dias de hoje? Por que?

Você deverá optar por uma esfera social para desenvolver seu argumento (família, trabalho, ambiente acadêmico, redes sociais). Deverá, ainda, postar suas respostas no Fórum e comentar as respostas de seus colegas, indicando, com argumentos, os prós e contras aos argumentos dos seus colegas.

Bem, eu não tive dúvidas, recém havia acampado com uma amiga, e os laços de lealdade que tenho me sustentam a alma, eu resumo minha existência  à philia e foi por isso que no título de minha resposta escrevi:

Onde há ser humano há philia

As questões ao meu ver se respondem em conjunto, há philia permeada pelas facetas de lealdade, companheirismo, empatia, parceria nos dias de hoje, e de todo e qualquer dia onde hajam seres humanos a se relacionar. Por que isso é uma necessidade de intrínseca ao ser humano que naturalmente busca um estado de plenitude e bem viver, o qual enquanto seres sociais que somos, só se pode com estreitos laços de amizade.


Ainda que todo o desenho social, desde o formato da educação institucional das escolas, os entretenimentos que promovem disputas, as religiões que disseminam o olhar julgador do outro, a economia que se apropria do trabalho em troca de salário, que consome o tempo e a vitalidade, a lógica das trocas... ainda assim, como toda pressão para destruir os resquícios de amizade, ainda assim, nosso espírito humano clama por esse modo de se relacionar. E esse clamor não pode ser substituído por remédios, consumo, "curtidas", terapias ou qualquer outra mercadoria.

 Eu estou totalmente tomada pela paixão das profundas relações de parceria que tenho vivido, não me lembro de me sentir tão amada e apoiada mesmo no bercinho de mamãe, mesmo no castelo do príncipe, mesmo... há algo ainda maior em relações não compulsórias, relações que trazem um compromisso com o outro em liberdade, relações que consideram em sua existência o respeito ao coletivo, que superam a apropriação e a troca. Eu costumava pontuar a ocitocina que essas miradas me liberam na cabeça e agora ganhei essa palavra philia

Depois de respondido o fórum em tempo hábil qual foi a minha surpresa quando ao abrir o texto leio:

Os laços aqui representados, fundamentados nas narrativas míticas gregas, não mais correspondem aos que estabelecemos entre nossos pares, na sociedade contemporânea. Os antigos, distantes de nós em inúmeros aspectos, são reflexos turvos de um ideal que não mais nos referencia ou legitima.

Pensei em chamar o autor do texto pra passar uma noite entre minhas amigas. Mas a verdade é que a sororidade não se mostra em sua plenitude e potência na presença masculina, salvo raríssimos casos. Como quando o patrão almoça com os empregados.

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