quinta-feira, 20 de outubro de 2022

o não corpo sem lugar sem vínculos

 Nasci sem identidade, sem comunidade, sem lugar, numa metrópole, filha de dois números. De números cujos ancestrais fugiram de perseguições políticas e miséria.

Às vezes sofro essas ausências, e sofro sobre maneira as ausências vindouras. Corpos humanos domesticados cuja única função é abrigar a mente que consome. Corpos que pouco se movem, que não toleram temperaturas, texturas, dores, emoções, sabores. Essa negação das necessidades dos corpos  aparece em conversas triviais, ela disse "ah, eu amei morar em Portugal, dá pra comprar tudo! Só comida e moradia que é caro, mas de resto: TV, celular, carro, roupas, bolsa, maquiagem."

E se eu sentia falta da comunidade agora poucos terão casa. A modernidade líquida da sociedade do espetáculo nos vende uma vida fake e maquiada em fotos de estética pasteurizada. E pílulas. Para artificialmente produzir um lapso de alegria para fotografar.

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