Quase não podia acreditar
nos meus olhos. Era uma visão muito bonita. Estonteante. A mais bonita que já
vi? E a água fresca, límpida, pura, pura, pura, que se movia num redemoinho
perfeito. Precisei ficar muito tempo, paradinha, só absorvendo, vivendo. Toda
aquela mata, as andorinhas brincando, rápidas, ágeis, livres. A visão do mar, a
altura. O som! Nenhum pouco agressivo, não era uma cachoeira furiosa. A água
fluía, escoando harmônica por uma rocha arredondada como um enorme elefante.
Sem perigo, sem adrenalina, era espaço de ocitocina.
Estranho ter vivenciado
isso e me sentir tão inquieta e irritadiça. Depois de um dia desses, com
caminhada na mata eu deveria estar relaxada, desejando o repouso tranquilo. Mas
não. Me mexia em casa, sem saber bem o que fazer. Tirava as coisas do lugar e
tornava a por. Não queria papo. Tentei uma meditação guiada e por pouco não
atiro o celular na parede, que chato. Yoga, e abre a pélvis e mexe que mexe, e
deita levanta. E bufo. Deito na rede abro o livro, um capítulo parece uma
tortura.
O que está acontecendo?
Não pude escapar de uma
auto analise. Tive o dia mais maravilhoso que podia imaginar e porque me sinto
assim?
Pensar que a cachoeira
está lá com aquela beleza indescritível. E aqui, a cidade, essas ruas, essas
paredes, esses tetos. São feios, feios, feios. Essas mulheres de revista, podem
produzir o quanto for, cirurgia, artes plásticas, feias, feias, feias. Estou
obcecada com a beleza daquele lugar. Sem lógica, sem plano, sem fibonacci obviamente visível. Quantos lugares não são assim e nunca
verei, nunca viverei? Quantas águas fluem nas paisagens mais divinas e jamais
porei meus pés para sentir sua temperatura, a brisa fresca e admirar a beleza.
Real. Quantas outras não deram lugar a cidades feias, feias, feias. Por mais
que houvesse alguma boa vontade com paisagismo e lagos. Quantos rios não
viraram desertos verdes, de eucalipto e outras monoculturas feias, cercadas e
feias.
Me incomoda não estar lá,
não olhar aquele horizonte, não ouvir aquele som. Ver paredes, mesa,
computador, ouvi motores acelerando, sentir um frescor falso do ar
condicionado. Feios, chatos, claustrofóbicos, mentirosos, mortos e agressivos.
Nesse momento, só de existirem me agridem.
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