segunda-feira, 16 de julho de 2018

Após a queda

Estou de joelhos, e meu corpo dói. São ossos quebrados. A cabeça lateja e sinto sede. Sempre soube que doeria, mas saber não é viver. A dor diminui quando lembro da escuridão da torre. Tão alta. O que me fez saltar? No instante em que pus os olhos na marreta eu soube que saltaria. E soube que doeria. Foi com alguma precaução que teci uma grande asa delta. Lençol com lençol. Tentando amenizar a queda.
Meu corpo dói.
E eu sinto a dor, eu aceito, eu choro. Eu quero que ela doa o tanto que tiver que doer. Aguardo que ela passe para que eu possa pisar no chão e sentir o sol. Virar de costas para a torre alta e sua parede aberta a marretadas. Fortes. Uma, seguida de outra, e outra.
Eu não nasci para torres altas. Meus pés precisam tocar a terra, sentir a temperatura, a textura, a umidade. Eu preciso estar no chão, de quatro, de dois, deitada.
Existe escolha?
Negar a potência da marreta e seguir enclausurada, enquanto o corpo pede chão, pede ar, pede mundano, seria uma escolha?
Não, eu não quero torres, nem princesas, nem heróis.
Eu quero ouvir meu corpo e respeitar meu coração e seguir seu caminho tortuoso e improvável. Quero sorrisos livres, verdadeiros e espontâneos. Se o padrão é opressão eu rompo.
Eu rompo. E sinto a dor, e sofro a dor. Se ela passar eu desfruto.

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