terça-feira, 11 de setembro de 2018

O que eu realmente quero pro meu filho?

Como algo tão abstrato é também tão palpável. E é de fato meio assustador deixar guiar a vida pelo o que nem conheço bem, e sequer sou capaz de definir: felicidade.

Enquanto caminhava pela areia quente da praia, em um dos horários de almoço, nos quais eu não almoçava para ter tempo de refletir, me perguntava o que eu quero proporcionar pro meu filho. Ele tem apenas dois anos, mas eu já devaneei demais. Já pensei que sinto tanta falta de saber algum instrumento que preciso garantir à ele educação musical, ele corre bem e é bastante atlético, e pensei que devemos aproveitar esse dom - inscrevi na aula de natação, e já pensei que ele vai usufruir muito de uma boa eloquência... Como passar esses conhecimentos que nem mesmo eu adquiri?

E nisso fui pensando, se precisava voltar pra São Paulo onde se tem boas aulas com especialistas de qualquer coisa, se precisava de mais dinheiro pra pagar uma boa escola. E fui pensando, se precisava de garantir uma boa herança para ele ter tranquilidade e fui pensando no que eu gostaria que ele fosse. Fiz então o exercício de me imaginar conversando com um Gabriel adulto, como eu gostaria de vê-lo... Me surpreendi!

O que eu gostaria de ver não era exatamente um homem rico, casado, com filhos, talentoso, reconhecido, culto, viajado, vencedor, não... Essas coisas não me pareceram essencialmente importante. O que eu quero mesmo, mesmo mesmíssimo, é olhar no rosto dele e encontrar um olhar vivo e brilhante, eu quero reconhecer no sorriso dele a felicidade! "uma consciência plenamente satisfeita" como diz o Houaiss!

E como é isso de ser feliz? Como construir esse caminho? Tem aula de felicidade? Quanto custa? O que posso eu fazer para prover isso? Na minha cabeça fiz alguns discursos, para cada idade uma linguagem! Mas, nenhum discurso me pareceu suficientemente bom para convencer alguém à ser feliz.

As escolhas!

Dei-me conta de que ele teria que fazer escolhas, e eu não quero ter controle sobre as escolhas dele, mas eu quero que ele escolha sempre por ser feliz. Se não posso ensinar isso em discursos, devo ensinar com meu próprio exemplo. Foi então que eu me vi na vida dele, ou melhor, vi ele na minha. Um ambiente de trabalho hostil e desumano, sem tempo pra educar e se divertir com o filho amado, oprimida e subjugada. Como eu poderei olhar nos olhos do meu filho, daqui 20 anos e dizer pra ele fazer as escolhas que eu não fiz, quando poderia ter feito? Fraca, hipócrita, infeliz e cheia de remorso, que porra de mãe, de mulher é essa?

Nietzsche: A minha felicidade, porém,
deveria justificar a própria existência
Eu precisei da maternidade para entender qual o sentido, o propósito da vida. Viver a felicidade! E isso só dá pra ser aqui e agora. Não existe o menor sentido em esperar, não é num suposto paraíso que seremos feliz, nem depois de aposentar. A felicidade precisa ser vivida aqui e agora. E eu não sei exatamente o que fazer para alcançar e manter esse estado de espírito, eu não sei, mas eu sinto, intuo, farejo e vou seguindo as pistas. Já percebi que não está no poder de consumo, já percebi que a relação com as pessoas tem um impacto bastante importante, nesse estado de espírito. Não é exatamente fácil e confortável, não é compreensível, explicável e nem tem como racionalizar. Pode parecer egoísta e irresponsável, mas a verdade é que o tempo vai passando, a juventude já virou passado, eu sou uma pessoa adulta e serei idosa, e vou morrer. O que vem depois é impossível de se garantir com certeza e eu realmente não quero arriscar de passar toda uma existência esperando uma felicidade num além mundo... Eu quero ser feliz aqui e agora, e acho que isso é o melhor que pode acontecer comigo e com todos os seres vivos que convivem comigo. 





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