Em um programa de TV chamado “É de casa” a mulher branca entrega um tabuleiro de cocada para única mulher preta do lugar com a ordem “agora você vai servir todo mundo”, senta-se para esperar e após der servida retribui com um abraço supostamente carinhoso, como reforço positivo. A equipe bolsonarista aposta na bela Michelle como propaganda eleitoral. Enquanto a Faria Lima tenta emplacar a candidatura de Simone Tebet como uma “nova” forma de manter vigente o sistema de acumulação.
As mulheres brancas, usadas como modelo hegemônico de existência, dedicam toda sua libido na
manutenção da coesão familiar. Algo que é intrinsecamente prazeroso e
instintivo torna-se um papel social limitado e eterno: “mãe”. Esse papel social
nos seduz, e nos confunde, porque enquanto seres sociais que somos queremos e
precisamos de afeto, carentes de carinho, atenção, alguém que nos veja, que
acompanhe a dinâmica da vida, nos sentir parte do bando, buscamos que as crianças tenham
referências para além de nós e nossos vícios, para que se constituam adultos capazes de
lidar com maiores complexidades. Crendo na impossibilidade de viver momentos de
respeitosa intimidade fora de um casamento investimos tudo na coesão familiar,
o trabalho passa a ser um apêndice dessa vida, é incrementar renda, trazer
assunto, servir de exemplo pra filho, e quem sabe botar respeito. A descrição
da já citada pré-candidata neoliberal começa com “Mãe”.
Estamos assim, servindo de
sustentáculo à um seleto grupo de capitalistas que acumulam. Dentro desse
sistema a família não tem outra função que não essa. Por mais que sejam verdadeiramente
constituídas pelo amor recíproco haverá esse pano de fundo. O problema não é a
família em si. Vem de dentro do nosso útero esse querer profundo de estar
próximo, de gestar, parir e manter uma parceria, se acarinhar, cochichar, admirar e ser admirada, desejada. Mas que dentro dum sistema de
opressão há a apropriação desse arranjo, o despojando de sua autenticidade.
Tornando o arranjo artificial e protocolar a ponto de sempre haver dúvida. O convívio
compulsório deixa de ter base no prazer e se torna coercitivo, é corrompido.
A menor das questões é sexo ou a manutenção ou não do arranjo social em
família. Tanto faz se transa ou não, como, com quem, se tem gênero, tanto faz
se casou, separou, se tá aberta ou fechada a relação, se ele ficou com outra
depois de te jurar amor. Isso pode doer na hora, mas é pequeno, a gente supera.
A questão, manas, é atentarmos à não manter e reproduzir os adoecidos valores
que sustentam o regime de acumulação capitalista. Sabendo que estamos há
séculos sujeitas à um sistema que nos despoja, e que nesse sistema além de espectadora do espectador somos também um sustentáculo em nossas micro-ações,
rompamos!
Atentas à como conduzir nossas
relações afetivas, cientes que são relações sociais, para além da nossa
satisfação individual imediata e egóica.
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