segunda-feira, 13 de junho de 2022

O banquinho e o medo da tecnologia.

"Matematicamente a probabilidade de estarmos em uma simulação é maior do que a de não estarmos" ouvi em uma das publicações de instagran e houveram tantos gatilhos disparados que me afastei. É um medo antigo esse meu, ou esse nosso. Desde operários à quebrar máquinas. Agora a gente sabe, é fácil, é bom controlar máquinas que nos substituem o trabalho físico. Eu sinto prazer em usar a lixadeira de bancada e fazer em 1 minuto o que faria em horas com as mãos. E que as vezes lixo com as mãos pra sentir o ritmo, a pressão nos dedos. Só que com a inteligência artificial as máquinas poderão pensar. E quem sabe sentir, como a LaMDA alega sentir. Como nessas assustadoras distopias, Matrix, 1984, Admirável Mundo Novo, Black Mirror, Elysium.

Isso costumava me assustar profundamente. Especialmente porque me senti durante muitos anos preterida por video-games num relacionamento afetivo insatisfatório. High tech, low touch.

O que nos identifica enquanto humanos. A teleologia é a capacidade de planejar e executar. Diferente de uma abelha que constrói a colmeia de modo mecânico, instintivo. Sempre igual, com o mesmo desenho, material e propósito. Nós, seres humanos temos isso pulsando naturalmente em nós, a capacidade (e a necessidade) de criar, modificar, elaborar. 

Na pequena oficina municipal, meu celular fica esquecido na mochila, e eu procuro, hoje encontrei uma madeira roxa para enfeitar o banquinho (especial pra quem gosta de uma sentadona). Num ambiente de sororidade, vamos entre mulheres trabalhando os materiais até dar a forma que queremos. Esse fluir da condição humana é fundamental pra sanidade, estamos privados de viver isso. Os empregos são mecânicos, e nossos utensílios tem o trabalho humano todo fragmentado.  

Eu uso a tecnologia, saí correndo pra escrever no computador, a caixinha de som está ligada, ouço notícias e uso o tinder quando me sinto disposta a conhecer alguém para uma finalidade específica e pouco burocrática. A tecnologia inteligente me serve. 

Um desses dias em que passava pela guarita do parque reclamei com meu amigo, sobre como estão cerceando minha liberdade. Ele me criticou por eu estar impondo minha liberdade individual sobre a política de Estado. Bem, de início, tem algo que o colonizador não alcança, é a integridade com o território, em meu corpo eu vivencio a montanha, eu preciso andar pela mata, as águas que correm são como meu sangue, sinto a poluição de um rio no meu corpo. É também o cheiro, a estética, e é o imaginário. Além do mais, eu temo que privatizem, que terceirizem e algum salafrário venha lucrar por cima de mais essa necessidade vital. O que começa aos poucos, sempre aos poucos, primeiro uma guarita supostamente para cuidar minha integridade física, já me tolhem os horários desconsiderando a minha capacidade de trilhar a noite, de apreciar o por do sol, o nascer da lua, anotam meus dados, a frequência, o cálculo de mercado. Então entendemos que preciso de liberdade para existência, e não na existência. E que não confiamos nesse Estado burguês. 

A questão seria como por a tecnologia à nos servir, e não à servir a acumulação de capital, que depende de nos submeter à consumidores, estritamente.

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