segunda-feira, 3 de junho de 2024

beleza e a sensação da presença

Acontece que no terceiro colegial me diagnosticaram míope. Passei então a usar um óculos que corrigia meus 0.25 graus de miopia. Até esse tempo ninguém nunca tinha me dito como cuidar da visão. A não ser minha querida finada avó Emília que falava que fazia mal assistir TV no escuro. A cada exame o grau aumentava. Até que quando eu usava um óculos de 3.50 graus eu perdi. E fiquei sem óculos. Bem, nesse tempo minha finada tia Lourdes e minha mãe me assediavam para fazer exercícios de olhos. Eu nunca fiz e considerava a sugestão excéntrica, e meio esotérica.
Acontece que com o óculos perdido e sem muito entusiasmo de usar lente, especialmente pq a grande amiga que me había iniciado mas lentes estava com problemas gravíssimos oriundo do uso continuado de lentes. Eu resolvi começar os tais exercícios. São trinta minutos diários que parecem a eternidade de Sísifo. Persistente como toda taurina a quem chamam teimosa, segui firme. Por meses sem lentes. Enfrentando um mundo surrealista de pessoas com rostos borrados. Até que, para renovar a CNH pus lentes de 2.25 graus e passei raspando no exame! 
Pois muito bem. Acontece que aí eu já estava muito feliz e contente, segura de mim, cantando, dançando e adorando minhas fotos. Até que pus a lente e olhei no espelho! Cremdeuspai. Mas tava muito judiada a pobrezinha. Aceita.
Sem que eu falasse sobre isso. Nesse mesmo dia, meu amigo artista contou uma anedota. Era um exercício de autoescultura e ele olhava o retrato e esculpia a peça. As pessoas e até o professor passavam por ele e se impressionavam, de tanto que o trabalho estava parecido. E ele foi fazendo e foi olhando, e julgou que num tava muito bem não. Achou feio e foi dando uma melhorada. No final, sem saber o que havia se passado no interior do aluno, o professor passou um sermão pra turma "ele estava indo muito bem, mas tamanha foi a imersão no trabalho, a concentração, que acabou por atrapalhar e desviar a qualidade" e reduziu a nota. Coisa que o amigo entendeu ser uma lição para vaidade.

E eu passei os demais segundos pensando nisso de beleza e autoimagem. Eu tenho é um medo grande de envelhecer. E uma das coisas é deixar de gostar de mim, de minha imagem. Mas esse dia da lente me fez pensar que é muito mais sobre como a gente se sente do que sobre como a gente se vê. Quando vi no espelho uma imagem que julguei feio foi meio constrangedor, mas logo passou, pq tenho me sentido bem, gosto de quem sou. E esse sentimento tem uma importância muito maior que o apreço pela imagem refletida. O mesmo com outras pessoas. A aparência tem um forte impacto inicial, mas nos segundos seguintes o que importa são as ideias e as emoções que despertam.

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