quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Panaceia

Ando terrivelmente mergulhada em notícias trágicas e problemas locais, mundiais... Por estar na área ambiental já tenho que lidar com problemas, e somando-se a isso, com a visita de meus pais estou tendo acesso as "deliciosas" notícias do jornal da manhã:

Depois da musiquinha alegre e suave, vem um "bom dia" feminino, seguido de um masculino, e logo na seguida: - Uma policial militar foi morta na madrugada dessa x-feira com 10 tiros nas costas. Daí se seguem os detalhes, muito explicados. Eu prefiro me concentrar na imagem do pão com manteiga, mas certamente a televisão mostra cenas do crime. Meu estomago embrulha, e começo um esforço mental sobre-humano para não chorar, ou não me revoltar, e tentar reencontrar o meu bom humor em algum lugar da sala. Minha mãe, como parte do ritual reclama das notícias dizendo que o pensamento coletivo está "dando força", e que a propaganda é alma do negócio, meu pai, com algum desconforto ignora, pois deseja ávidamente saber das notícias que interessam. Saio de casa com o pão embrulhado na garganta, tropicando nos meus pés sem saber ao certo o que seria melhor, ficar ouvindo "aquilo" ou sair e me submeter "aquilo", embora ouvindo coisas mais agradáveis.

O fato é que as coisas agradáveis não são notadas por quem está com as realidades supracitadas na cabeça. E então, o nosso colega dá um relato pessoal dizendo que foi o primo dele, em uma das notícias, que morreu com um tiro na nuca. Sabem, eu não fiz grandes esforços para voltar para São Paulo, por que Rio Grande é maravilhosamente pacata, não tanto quanto o Uruguai, mas costumava ser muito tranquila.
Na minha reunião de Logosofia tive a "oportunidade" de saber alguns detalhes a mais do crime com uma amiga promotora, os detalhes envolviam tijoladas, mas o detalhe que me chamou a atenção foi que os menores de idade, que praticaram o crime, serão detidos por 3 anos. Quer dizer, que bosta de sociedade é essa que imagina que esse sistema pode resolver o problema? Que bosta de sociedade é essa que desconfia que dar uma bolsa qualquer coisa de 600 mangos pode resolver o problema da miséria? Que bosta de sociedade é essa, que segue acreditando que quem tem poder aquisitivo foi por sorte, mérito e esforço, e o resto que se esforce e segue comprando merdicas feitas por mãos miseráveis num regime de escravidão?

Ai, ai, me desculpem a fúria do momento, mas não posso me questionar sozinha. Eu sei que se questionar dói e confunde, mas temos que fazer isso, temos que encontrar nossa responsabilidade nisso tudo. Temos que mudar nosso paradigma e ter uma visão ecossistêmica, temos que parar de pensar em como ganhar o nosso dinheiro e que se foda o resto, ou doar 100 mango para qualquer instituição e dormir em paz como se tivéssemos feito a nossa parte. Cada vez mais eu chego a conclusão que estamos dando uma responsabilidade ao dinheiro que ele não tem, estamos comprando coisas que não estão a venda.
Eu sou muito a favor dessa distribuição de bolsas, por considerar a necessidade de distribuição de rendas, mas, pelo amor de deus, não dá para alguém ter a vida melhorada com isso, morando um barraco fétido, com vizinhos mau-educados, com o filho indo a uma escola decaída repleta de professores com pouca condição de ensinar alguma coisa. E essa pouca condição não se restringe ao salário, como disse cada vez acredito menos no dinheiro como solução, essa condição depende de esse professor ter tido um ensino de qualidade na universidade, o que é nojentamente raro, tendo passado por uma universidade de qualidade posso garantir que é mais que normal conquistar um diploma sem ter aberto um único livro. O professor tem que ter acesso a livros, muitos livros, novos, atualizados, alguém já entrou numa biblioteca pública?! A internet é um instrumento preciosíssimo, mas nós não sabemos usar, talvez seja uma particularidade dos brasileiros, que estamos a gerações sendo incentivados a copiar, a reproduzir. Copiamos políticas americanas e europeias, copiamos como eles administram empresas, copiamos como eles se comportam, copiamos mau e porcamente, e valorizamos quem copia melhor, não incentivamos e escarniamos os que mostram alguma tendência a criar, chamamos inovador o que copia primeiro.

Para mim, a panaceia é o humanismo. O incentivo da formação de seres humanos críticos e responsáveis, e para atingir isso, devemos cair no jargão da educação, o que eu cresci ouvindo, mas nunca vi. E é uma educação de verdade, não frequentar a escola, isso não adianta nada. Temos que saber o real valor da escola, de saber, de aprender, temos que saber e falar para as crianças que estão lá disponibilizando um tempo precioso de suas vidas sem nem ao certo saber o porque.

Os menores infratores, supracitados, cresceram à margem de uma sociedade podre, poderia apostar com vocês que eles nunca foram tratados com algum respeito. Tiveram uma atitude, me perdoem, previsível, e irão ser detidos... Vocês acham mesmo que nesses três anos eles irão pensar, puxa-vida, que coisa horrorosa que eu fiz sujando de sangue esse mundo tão lindo e colorido do qual eu quero muito fazer parte... e que então eles irão sair de sua reclusão, com esse "histórico" e que as pessoas irão abraçá-los e dizer, "ai, que bom que você se arrependeu e quer fazer parte do nosso mundo colorido, seja bem vindo, e repare, ele tende ao cor-de-rosa"!

Eu tenho minhas dúvidas, e como minha parte, eu procuro melhorar, eu procuro me questionar, procuro olhar nos olhos do mais simples e fodido e reconhecê-lo como igual, procuro ver nele o ser maravilhoso em potencial que ele é, e procuro assiduamente dar o real valor aos objetos. Às vezes eu escorrego, e às vezes me deprimo pois percebo que estou gradualmente me marginalizando, mas eu sigo pensando, e fortificando meus princípios, acho que o nome disso é moral, que sempre ouvi sendo criticada e escrachada. Mas, e para concluir, acho pessoalmente que tirando nossa moral não nos resta muita coisa...

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