sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Qual o papel de uma ONG?

Existe um mundo imaginário onde as ONGs são amigas lindas! Esse imaginário é deveras perigoso e cruel. E complexo, tanto que ouso vir aqui sem ter uma posição bem sedimentada, mas, com a necessidade de extravasar.

Tive que ler um papper para uma disciplina. Ele analisava a contribuição de ONGs no ordenamento territorial marinho (planejar quais atividades - aquicultura, exploração de petróleo e recursos minerais, navegação, pesca, energia, depósito de resíduo - poderão ser feitas e aonde). O papper repetiu diversas vezes que as ONGs, por serem representantes da sociedade civil, são independentes tanto do estado quanto dos interesses privados e que portanto podem atuar como mediadoras. Os autores até aceitavam que a ONG pudesse ter algum interesse próprio, desde que não fosse conservacionista. Ah, outra exigência é não usar de violência, o que possivelmente descaracterizou o Greenpeace de ser citado no trabalho, e penso que só de pensar no Sea Sheperd os autores já devem tirar de seus ternos adjetivos como vândalos, baderneiros, criminosos, inimigos da ordem e da família, entre outros.

Eu fiquei imaginando como seria uma ONG independente. É que precisa de verba para funcionar e para tanto é necessário doação ou aprovação de projetos, submetido a empresas públicas ou privadas, ou governo, criando indiretamente uma dependência. Aí pensei em que ONG representa o interesse da sociedade civil, e de que parte dessa sociedade?

Não tenho fé em instituição nenhuma, isso é muito triste. Sei de podridão inaceitável dentro da minha universidade. E quanto à ONG, vou contra uma história para você:

Era uma vez uma ONG (OSCIP para ser mais exata) chamada Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC). Por favor, deem uma olhada no site, antes que saia do ar: http://www.imdc.com.br/. Essa OSCIP, como pode se ver no site, tem mais de 3 décadas de atuação, e investe na qualificação de jovens carentes de todo Brasil e na alfabetização. Tudo, como podemos ver na imagem abaixo, com muita responsabilidade...
Até que, desde 2011 a PF vem investigando a atuação da OSCIP. Grampeu as ligações e verificou que de todas as ligações apenas ZERO tratavam de prestação real de serviço. E como uma bola de neve, os funcionários mais desprovidos de carater e sem valor moral, aprendiam com o esquema e abriam sua própria OSCIP (informações aqui, mas já adianto que é revoltante demais e portanto desaconselho a leitura).

Acredito que nossa ingenuidade, provinda da alienação consciente é perigosa e desumana. O professor, ainda que meio desconcertado com as intervenções feitas por mim e minha amiga. Disse que na experiência dele ao se apresentar como universidade "muita gente torce o nariz", mas como ONG é mais bem aceito. Fiquei lembrando de um texto de educação ambiental crítica que os autores diziam que a EA está agindo muitas vezes como legimizador da opressão. Tentando tapear uma ação danosa a uma população sem voz com atividades de "mitigação" que visa por tudo em panos quentes. Pois, aconteça o que acontecer deve-se agir "sem violência".

Eu não consigo entender como a solução parece tão óbvia e ao mesmo tempo tão distante do nosso modo de pensar. Alguns colegas defendiam as ONGs como o modo mais adequado de representação da população. Inicialmente penso num plano que envolvesse prefeito e ONG, então eu teria votado em uma pessoa para me representar (a mim, à comunidade de pescadores, aos LGBTs, etc) que estaria sendo pressionada por uma instituição que existe para me representar. No caso eu estaria sendo duplamente representada na elaboração de uma política que eu nem tomei conhecimento, pois tenho que trabalhar 8 horas por dia, arrumar a casa, cuidar do jardim e a rede globo não é capaz de me informar o que foi tratado em nenhuma reunião política enquanto lavo louça, ela só mostra o pior de relações humanas bizarras...

Ou seja, deveríamos ter menos tempo de trabalho em emprego formal (afinal qual trabalho é realmente útil? não existem tantas máquinas) e mais possibilidade de participação. Nesse sentido a primeira coisa a se fazer é alfabetizar freiranamente os mais oprimidos. Qualquer medida que fuja disso esconde um interesse mesquinho e desumano, por mais que dotada de "boas intenções", que aliás são o pavimento da estrada para o inferno.

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