segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

a injustiça está na mesa

Assistindo um dos filmes que eu mais gosto Violinista no Telhado, uma cena me chama a atenção. É quando o Tevye vai visitar o açougueiro, por pensar que ele quer comprar sua vaquinha leiteira, quando na verdade ele quer se casar com sua filha:
Impressionado com a casa luxuosa do açougueiro ele pergunta:
- E tudo isso por matar animais inocentes?

Pois, seu Zé, mas a injustiça do consumo de carne não para por aí. A cada dia tenho me tornado mais sensível à questões sociais, eu não sei que bicho me mordeu, que autor me norteou, que amigo me inspirou, que movimento social me cativou, ou se foi isso tudo junto e misturado, só sei que o que mais me tem doido é a injustiça social. E nesse ponto entra o que ultimamente mais me envolve no vegetarianismo (e encaminha para o veganismo). A questão social.

No caso, eu estenderia a compreensão do termo animais, acima para animais humanos. Afinal a agropecuária traz algumas belezas para admirarmos:
- expulsa famílias do campo, para viverem mau nas periferias das cidades (e a coisa não é tão simples quanto só oferecer um punhado de dinheiro por suas propriedades, é algo mais orquestrado como deixar a vida no campo o mais complicada possível, enquanto promete a infraestrutura da cidade e a educação dos filhos como salvação miraculosa - não é teoria da minha cabeça, é de Antonio Carlos Robert Moraes, 2007);
- concentra terras (e renda e poder e influência política);
- desmata florestas, pressiona terra indígena;
- usa água pra caramba (10.000l de água/Kg para produção de leite, de 20.000 a 50.000l de água/ Kg de carne, podendo ser o dobro em clima tropical, fonte) que poderia estar sendo usada para fins mais sociais;
- e principalmente, para quem e para que é produzida essa carne? Não tenho fontes oficiais mas, possivelmente a quantidade de vegetais utilizada na alimentação de bovinos seria suficiente para alimentar todos os 7 bilhões de pessoas que temos por aqui, nesse planeta!
A bancada ruralista é prova viva do que essa concentração de terras/renda/poder é capaz de fazer. É assustador ouvir discursos recheados de ódio que defendem guerra e sangue, tudo o que for necessário para proteger o que consideram "suas" terras de índios, quilombolas, e "tudo o que não presta". Na lógica de tais proprietários a demarcação indígena é uma grande injustiça, ao passo que a concentração de terras que inevitavelmente repercute na ampliação de desigualdades sociais é um modo legítimo e justo de viver, desde que a concentração seja na mão deles, não de índios, claro...



E nesse caso não seria igualmente injusto comer soja, ou qualquer item oriundo de monoculturas?
Sim, seria. Mas, a quantidade de soja usada na alimentação humana é bem menor, ainda que haja a absurda hipótese de todos substituírem a carne pela soja. No entanto, é um equívoco acreditar que só a soja é capaz de substituir a  proteína animal. Todas as leguminosas são ricas fontes proteicas. E oriundas da agricultura familiar, modelo que suporta cultivos orgânicos!



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