sábado, 21 de fevereiro de 2015

As Paredes que Separam e Contém

Cercada por muros e cercas a vida acontece.
Da maternidade para o apartamento, para o shopping, cercas dos parques, dos estádios, muros das escolas, universidades, empregos, hospitais, museus, igrejas, por fim, os grandes muros dos cemitérios.
Pela via pública se transporte de um muro ao outro. O público é sujo, é fedorento, é desagradável. As ruas de fluxo rápido expulsam, só servem ao privado com ar condicionado e música ambiente. O público é hostil e perigoso. Nas ruas sem calçadas o público se espreme entre altos muros hostis adornados com cerca elétrica e o atropelamento. Fedidas, quentes, sujas, barulhentas e violentas. Uma vez por ano tem samba na via pública, mas o espaço dentro da corda é privado.
A praça é pública, mas a grama tá alta, o banco é desconfortável, não tem sombra e a noite não tem luz, não se escuta grilo, sapo ou cigarra. O comércio acontece e a interação pessoas entre si e com ambiente passa para segundo plano.
A piscina é limpa, estável, segura, clorada, estéril. A água pública é perigosa, tem correnteza e poluição, tem bicho. A potável tá escassa vem de rio poluído. A água que foi murada e engarrafada é pura e saudável.
Muros de diversos tamanhos e cores devem ser respeitados em sua nobre e única função de segredar, conter os de dentro separados dos bárbaros, selvagens de fora. Muros não servem para propagar filosofias, ou demarcar espaços de gangues desmuradas, não servem para expor arte gratuita e nem protestos sérios. Quem desrespeita o muro ganha uma estadia entre grades para entender melhor o papel das paredes.


Bem vinda à (capital latina do capital) São Paulo, obrigada.
A lógica vigente parece ser "quanto menos natural e público melhor". A segregação descriminadora é parte do cotidiano.

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