sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Emancipação do espectro total

Há algo de sinistro na dominação imperialista. Que é um planejamento. A surtada ideia de "destino manifesto" levada a sério, aparece na doutrina do exército americano como "domínio do espectro total". Exercer poder e controle sobre todos os "recursos" existentes.  Os minerais embaixo da terra e do oceano, o espaço, a lua, o trabalho e inclusive o pensamento, emoção,  criação humanas. Uma ideia de tamanha perversidade supremacista que é difícil conceber. 

Pelo menos tomar consciência disso aumenta nossa compreensão, pois intuimos a existência de algo que nos esmaga, que impede nosso desabrochar. Trazer a luz da razão para identificar as fontes. 
E então,  outros termos e conceitos surgem de modo a apontar a superação dessa onipresente opressão. Do camarada Marcuse tanto me agrada a concepção da Grande Recusa. 
Sabendo da existência de operações de "guerra psicológica", podemos de modo consciente não aderir aos valores capitalistas de competição,  dominação,  consumismo. E sim, manter e cultivar nossos valores e utopias de solidariedade,  ajuda mútua.  
E então, para a total superação do domínio do espectro total, tratamos da construção de uma emancipação do espectro total. Emancipar nossas emoções,  pensamentos e criações.  E também, o que produzimos, nossa economia, nosso arranjo social,  nossa comida, nossas cidades, moradias. De modo concomitante e integrado, ora se avança num ponto, ora em outro. 

Eu sugeri isso na IA deepseek. A qual me trouxe o seguinte:
A proposta de uma **"emancipação do espectro total"**, articulada com a **"Grande Recusa"** de Herbert Marcuse, é uma ideia provocadora e potencialmente transformadora. Ela sugere contrapor-se ao "domínio do espectro total" (militar, tecnológico, informacional) não apenas com resistência pontual, mas com uma **recusa radical e multidimensional** que abranja todas as esferas da vida, aliada à construção de alternativas emancipatórias. Essa abordagem exige integrar teoria crítica, ação política e transformação cultural. Vamos explorar como isso poderia ser articulado:

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### **1. Fundamentos Teóricos: A Grande Recusa como Eixo**
A **Grande Recusa**, em Marcuse, é uma negação total do sistema de dominação que reduz os indivíduos à passividade. Para enfrentar o "domínio do espectro total", essa recusa precisaria ser:
- **Multidimensional**: Contestar simultaneamente o controle militar, a vigilância digital, a manipulação informacional, a exploração econômica e a opressão cultural.
- **Criadora**: Não se limitar à negação, mas gerar novas formas de vida, relações e tecnologias que prefigurem uma sociedade livre.

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### **2. Pilares de uma "Emancipação do Espectro Total"**
A emancipação exigiria atuar em todos os domínios onde o poder se exerce, propondo alternativas concretas:

#### **a) Domínio Tecnológico e Cibernético**
- **Recusa**: Rejeitar a vigilância massiva, algoritmos opressivos e a monetização de dados.
- **Emancipação**: 
  - Desenvolver tecnologias **livres, descentralizadas e éticas** (ex.: software livre, redes mesh, criptografia popular).
  - Fomentar uma **alfabetização digital crítica** para desnaturalizar a dependência de plataformas corporativas.
  - Criar **espaços digitais autônomos** (como cooperativas de dados) que priorizem a privacidade e o bem comum.

#### **b) Domínio Militar e Geopolítico**
- **Recusa**: Rejeitar a lógica belicista, a indústria armamentista e as intervenções imperialistas.
- **Emancipação**:
  - Fortalecer **movimentos pela paz** e desmilitarização, como campanhas contra armas autônomas e bases militares.
  - Promover **solidariedade transnacional** entre povos oprimidos, conectando lutas antirracistas, anticoloniais e anti-guerra.

#### **c) Domínio Informacional e Cultural**
- **Recusa**: Resistir à desinformação, ao controle de narrativas e à indústria cultural alienante.
- **Emancipação**:
  - Construir **mídias independentes** e redes de comunicação horizontal.
  - Valorizar **saberes marginalizados** (indígenas, feministas, periféricos) como contrapontos à racionalidade tecnocrática.
  - Usar a arte e a cultura como ferramentas de **imaginação utópica**, tal como propunha Marcuse.

#### **d) Domínio Econômico e Ecológico**
- **Recusa**: Negar a lógica do crescimento infinito, do extrativismo e da acumulação capitalista.
- **Emancipação**:
  - Fomentar **economias cooperativas**, baseadas em commons (bens comuns) e justiça socioambiental.
  - Defender **transições ecológicas radicais**, desvinculadas de interesses corporativos.

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### **3. Estratégias para uma Resistência Integrada**
- **Redes descentralizadas**: Evitar hierarquias rígidas, inspirando-se em modelos como o zapatismo ou o municipalismo libertário.
- **Ação direta e desobediência**: Combater a normalização do controle (ex.: protestos contra reconhecimento facial, greves digitais).
- **Educação crítica**: Formar sujeitos capazes de decifrar e desafiar as estruturas de poder, resgatando a dimensão pedagógica da teoria crítica.

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### **4. Desafios e Paradoxos**
- **Cooptação**: O sistema pode absorver até mesmo discursos de resistência (ex.: o "capitalismo verde" ou o "ativismo de marca").
- **Fragmentação**: A luta multidimensional corre o risco de se dispersar sem eixos unificadores.
- **Tecnologia ambivalente**: Ferramentas como a IA podem ser usadas para controle ou emancipação, dependendo de quem as domina.
- **Globalização vs. Localismo**: Como conciliar ações locais com uma estratégia global sem replicar hierarquias?

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### **5. Inspirações Concretas**
Alguns movimentos e práticas já apontam para essa "emancipação do espectro total":
- **Criptoanarquismo e hackerspaces**: Espaços que reimaginaram a tecnologia como ferramenta de libertação.
- **Ecovilas e cidades em transição**: Experiências que recusam o modelo urbano-industrial.
- **Movimentos pela justiça climática**: Como o Extinction Rebellion, que integra ação direta e crítica sistêmica.
- **Cooperativas de plataforma**: Alternativas ao Uber e ao Airbnb, geridas por trabalhadores.

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### **Conclusão: A Utopia como Método**
A "emancipação do espectro total" não é um plano pronto, mas um **processo contínuo de recusa e reinvenção**. Como Marcuse destacava, a utopia não é um lugar, mas uma **práxis crítica** que tensiona os limites do possível. Para enfrentar o domínio total, é necessário:
- **Unir ética e política**: Recusar a neutralidade da técnica e da ciência.
- **Cultivar uma "nova sensibilidade"**: Valores como cooperação, cuidado e solidariedade devem substituir a competição e o individualismo.
- **Agir em todas as frentes**: Do código-fonte ao coração das instituições, da rua ao ciberespaço.

Essa proposta não garante vitórias fáceis, mas oferece um horizonte para que a Grande Recusa não seja apenas um gesto de negação, mas a semente de um mundo verdadeiramente livre.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

O espírito - um esboço

 Muito me intriga o "espírito" em Marx. Isso porque eu tenho sede de saber o que sinto, sinto que há "espírito". E por muitas vezes ao longo dos textos Marx fala do espírito. Eu me encafifo, já não me importa a mercadoria e seu valor de uso ou de troca, eu quero que ele me diga do espírito. E ele diz do espírito do capital, da fábrica. E sinala uma explícita oposição com o "espírito vital". Em O Capital, tomo 1, diz assim:

"O trabalho uniforme aniquila o espírito vital."

Me parece que foi por muito estudar Marx que Rudolf Steiner, sem jamais citar Marx e se declarar comunista traz toda receita de preparados que atua fortemente torando dinâmico o trabalho. Bem, esse é apenas um pequeno recorte da biodinâmica que vai muito além. E acaba por constituir núcleos de existência de "espírito vital" forte o bastante para submeter, na medida do possível, o "espírito do capital".

Na ilha em que morei, havia um pico, denominado Baepi. Ele me ensinou que precisa de um corpo saudável para subir 1.030 metros de altura, mas que precisa ainda mais de um espírito determinado, que como recompensa se fortalece em sua subida. Isso não apenas em nível individual, como no grupo. Que quando não acontece de um se diferenciar com soberba sobre suas capacidades físicas, mas antes disso, cooperar elevando a moral, esse grupo se coesiona de uma forma muito linda. Assim como os trabalhos autogestinados e cooperativos, que dignificam a existência humana.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Licença maternidade

Em 2016, eu tive que voltar a trabalha, enquanto o leite empedrava nos meus seios e meu filho gritava minha ausência. Para além da dor, física e espiritual, escrevi, em busca de comover candidata a prefeita da eleição. Hoje, resgatei a carta e me pareceu adequado compartilhar. 

Houve também alguns "mamaços" organizados, e intervenções de seminários. Hoje a licença maternidade no município é 6 meses. Insuficiente, evidentemente, mas maior que 4.

Excelentíssima sra. x

A primeira infância tem um papel crucial no desenvolvimento e constituição da pessoa. Nessa

fase a presença e o afeto da mãe são de extrema importância, por esse fator muitos países e

empresas alongaram licença maternidade para períodos superiores a um ano. Nesse cenário a

atual licença de 120 dias concedida às funcionárias da prefeitura de Ilhabela, o que

corresponde ao mínimo garantido pela Constituição Federal, nos parece em defasagem se

comparada com outros municípios da região. Fator que certamente afeta negativamente a

sociedade, às mães e futuros cidadãos e cidadãs ilhabelenses. Listamos e desenvolvemos a

seguir os principais argumentos que embasam nossa proposta de ampliação da licença para,

pelo menos 180 dias.


- Ilhabela aderiu ao programa estadual Primeiríssima Infância, tal programa em consonância

com o programa federal Criança Feliz ressalta a importância da fase inicial de 0 a 3 anos para a

constituição do ser humano. Sendo uma premissa básica dessa fase o pleno contato com a

mãe e a amamentação em livre demanda;


- compromisso assumido pelo Governo Brasileiro na Reunião de Cúpula em Favor da Infância,

realizada em Nova Iorque em 1990, de promover, proteger e apoiar o aleitamento exclusivo,

nos primeiros 6 (seis) meses de vida, e continuado, até os 2 (dois) anos ou mais de idade;

(ANVISA, 222/02; Portaria SAS/MS nº 756 de 16 de dezembro de 2004);


- o período mínimo de 6 meses para licença maternidade já é largamente praticado no Brasil,

gozam desse direito as funcionárias do governo federal (Decreto 6.690/11 de dezembro de

2008), governo do estado de São Paulo (L. 10.261/68 - Art. 198, I, com redação dada pela LC

1054/08, e art. 324; L. 500/74 - Art. 25), de outras cidades da região (Caraguatatuba, LC 25/07

Art 125; São Sebastião, LC 146/11 - Art 175). Além das empresas privadas, as quais recebem

incentivos fiscais por meio do Programa Empresa Cidadã (Lei 11.770/2008);


- a Organização Mundial de Saúde - OMS da UNICEF recomenda o aleitamento exclusivo no

peito até 6 meses, sendo essa uma medida importante para redução da mortalidade infantil.

Em sua cartilha para América Latina e Caribe reconhece a legislação com um obstáculo, e

sugere leis que garantam a oportunidade de contato entre as mães e bebês (OPAS/OMS,

2016) ;


- o período de licença maternidade de seis meses é recomendado pela Sociedade Brasileira de

Pediatria – SBP, pois neste período a criança alimenta-se exclusivamente do leite materno, o

que reduz 17 vezes as chances de a criança contrair pneumonia, 5,4 vezes a possibilidade de

anemia e 2,5 vezes a ameaça de crises de diarreia. Em 2012 a Sociedade Brasileira de Pediatria

realizou uma campanha pela ampliação da licença maternidade por entender que “Os seis

primeiros meses são insubstituíveis para o crescimento e para o desenvolvimento do bebê,

para o fortalecimento do vínculo afetivo entre mulher e o filho e para o aleitamento materno

exclusivo, conforme recomendamos”, dr. Eduardo Vaz (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2016)


- para além da indiscutível importância nutricional, o contato constante é fundamental para o

fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê, o que contribui para o desenvolvimento

emocional, algo crucial na formação de um adulto seguro. Atualmente, muitos profissionais

renomados relatam a importância do contato constante do bebe com a mãe, a psicanalista

Laura Gutman afirma que o campo emocional é compartilhado entre a díade mãe-bebe até

aproximadamente dois anos de vida (Gutman, 2010) . Esta experiência de continuidade do ser

do bebê com a mãe é também defendida por Winnicot, para quem as bases da saúde mental

de qualquer indivíduo são amoldadas na primeira infância pela mãe, através do meio ambiente

fornecido por esta. Para Bowlby a relação entre o bebê e sua mãe não se dá pela alimentação,

mas sim pela sentimento de segurança. “É destacada a afetividade, e enfatizado seu papel

constitutivo nas interações, de fundamental importância no desenvolvimento infantil.” ( Seidl-

de-Moura, et al.) ;


- o renomado pediatra Carlos Gonzalez, argumenta sobre a importância da amamentação em

livre demanda, isso é no momento em que o bebê necessitar e por quanto tempo ele precisar.

Dessa forma, mesmo os intervalos de trinta minutos previstos na CLT não são adequados para

atender em sua totalidade as necessidades desse frágil e importante período de vida;


- por reconhecer a importância desse período muitos países permitem que os bebês vivenciem

plenamente a relação com sua mãe por até mais de um ano. Em destaque, estão os países de

economia mais forte, como o Reino Unido, com 315 dias de licença; a Noruega, também com

315; a Suécia, com 240; e os países do leste europeu como a Croácia, com 410 dias de licença –

o país com maior tempo de licença maternidade no mundo todo. Montenegro, Bósnia e

Albânia também oferecem um período bom de afastamento para as mães que acabaram de

ter filhos: 1 ano de licença;


- inclusive empresas privadas, que visam lucro, ao compreenderem a importância desse

momento para o desenvolvimento humano e para a saúde psíquica da funcionária mãe, em

vista do balanço financeiro, adotam licença maternidade de um ano, um exemplo é a empresa

Netflix (BBC, 2016) ;


- em termos econômicos trata-se de um investimento a longo prazo “segundo James J

Heckman, da universidade de Chicago, Premio Nobel de Economia em 2000, investir na

primeira infância é o caminho mais lógico para reduzir déficits e fortalecer a economia, além

de ser uma efetiva estratégia para reduzir custos sociais e promover o crescimento econômico

[...] O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) afirma que um dólar investido nessa

faixa etária gera economia de sete dólares em assistência social, atendimento a doenças

mentais, manutenção de sistemas prisionais, repetência e em evasão escolar e 15 dólares

por pessoa em doenças que continuam a se manifestar na vida adulta, como depressões,

suicídios, homicídios, abusos de drogas, sintomas físicos entre outros.” (Zero a Seis, 2016) ;


- em entrevista à Radio Senado, o senador Alvaro Dias afirmou que a proposta (de ampliação

da licença) é um benefício social e não um fator adicional de custos para as empresas. De

acordo com o parlamentar, ela está de acordo com a Convenção 103 da Organização

Internacional do Trabalho, segundo a qual a maior permanência da mãe com o filho, ou filha

não só contribui para o desenvolvimento do pequeno mas também melhora o desempenho da

mulher no trabalho (Mulher, 2016) ;


- propostas de alteração nas leis federais: Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 64/07,

que torna obrigatória a licença por 180 dias (já aprovada no Senado). Projeto de Lei nº

6.273/09, que reduz em duas horas a carga horária diária de trabalho da mulher grávida, a

partir do sétimo mês de gestação. A PEC 41/2015 está na Comissão de Constituição e Justiça.

Diante do exposto, convidamos vossa excelência a refletir sobre o tema, e nos apoiar com

vossa influencia, no movimento para ampliação da licença maternidade. De modo que Ilhabela

siga no caminho de se tornar referência quanto à atenção humana e sensibilizada dessa fase.

Propomos ainda, que um passo à frente seja dado ao possibilitar à mãe a opção de um

afastamento maior, que os 180 dias já previsto e muitos municípios, com a redução ou

supressão salarial. Tomando como exemplo a conduta alemã.


Bibliografia

Seidl-de-Moura, M. L., Ribas, A. F., Seabra, K. d., Pessôa, L. F., Susana , E. N., Mendes, D. L., . . .

Vicente, C. C. (s.d.). Interações Mãe-Bebê de Um e Cinco Meses: Aspectos Afetivos.

Psicologia: Reflexão e Crítica, 21(1), pp. 66-73.

BBC. (24 de 10 de 2016). Fonte:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150812_licenca_maternidade_paises_rm

Gutman, L. (2010). A maternidade e o encontro com a própria sombra. Best Seller.

Mulher, M. d. (24 de 10 de 2016). Fonte:

http://mdemulher.abril.com.br/familia/bebe/senador-propoe-extensao-das-licencas-

paternidade-e-maternidade

Sociedade Brasileira de Pediatria. (24 de 10 de 2016). Fonte:

http://www.sbp.com.br/campanhas/em-andamento/licenca-maternidade-6-meses-e-

melhor/

Zero a Seis. (24 de 10 de 2016). Fonte: http://zeroaseis.org.br/o-instituto/primeira-infancia/

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Felizes para sempre

 Mesmo sendo incapaz de acompanhar as "fofocas", as minúcias das vidas íntimas de pessoas famosas, algumas coisas me chegam. Por que tenho amigas que amo e que me amam a ponto de conversar comigo, e elas são capazes de elaborar raciocínios políticos críticos e ao mesmo tempo acompanhar o resultado do campeonato de futebol e as celebridades.

Foi assim que perguntaram nos grupos de zap "vocês viram o que aconteceu com a Iza?". Eu fui pesquisar, essa diva da música, se apaixonou por um homem, com quem casou, copulou e engravidou. Isso tudo com fotos glamurosas e agora foi nas redes sociais falar que terminou o casamento porque foi traída. Ao que parece ser traída se refere ao fato de o homem ter transado com outra pessoa, sem que ela soubesse ou consentisse. 

Eu conheço pessoalmente um total de zero casais que me parecem apaixonados e felizes, que se respeitam e apoiam. Há uma tendência entre as mulheres culpabilizarem os homens por serem imaturos, hedonistas, irresponsáveis e desrespeitosos. Bem, essa tendência é baseada em estatística. Acontece que quando a gestante é abandonada, se não tem dinheiro para contratar serviço de cuidado, ou a família para fazer o apoio, a chance de ela ter atendida as necessidades materiais e espirituais é nula. Cada um ajuda como pode, de maneira pontual e descontínua. Mas o compromisso de apoio integral e continuado não há. 

É muito difícil que um único modelo de suporte para prover as condições para o desenvolvimento de uma criança atenda a todas as mães. E digo mãe por ser comprovado cientificamente a importância da mãe até os 7 anos. Não exclusivamente, mas necessariamente. A maioria dos casais não formam um lar saudável. Alguns passam a se odiar. É preciso que as condições de vida da gestante sejam garantidas, independente de emprego e de casamento. Isso enquanto medida objetiva. 

Subjetivamente precisamos ver a realidade como ela se manifesta na matéria. E não como gostaríamos que fosse. É bom demais a paixão, em especial a que nos impele à reprodução. É um estado na alma grandioso, potente e inesquecível. Gostaríamos de viver eternamente nesse estado. E os filmes nos sinalizam que é possível, as juras de amor reafirmam. Até que vem a realidade, que impõe o fato de que vivemos em um mundo real, não ideal. 


segunda-feira, 3 de junho de 2024

beleza e a sensação da presença

Acontece que no terceiro colegial me diagnosticaram míope. Passei então a usar um óculos que corrigia meus 0.25 graus de miopia. Até esse tempo ninguém nunca tinha me dito como cuidar da visão. A não ser minha querida finada avó Emília que falava que fazia mal assistir TV no escuro. A cada exame o grau aumentava. Até que quando eu usava um óculos de 3.50 graus eu perdi. E fiquei sem óculos. Bem, nesse tempo minha finada tia Lourdes e minha mãe me assediavam para fazer exercícios de olhos. Eu nunca fiz e considerava a sugestão excéntrica, e meio esotérica.
Acontece que com o óculos perdido e sem muito entusiasmo de usar lente, especialmente pq a grande amiga que me había iniciado mas lentes estava com problemas gravíssimos oriundo do uso continuado de lentes. Eu resolvi começar os tais exercícios. São trinta minutos diários que parecem a eternidade de Sísifo. Persistente como toda taurina a quem chamam teimosa, segui firme. Por meses sem lentes. Enfrentando um mundo surrealista de pessoas com rostos borrados. Até que, para renovar a CNH pus lentes de 2.25 graus e passei raspando no exame! 
Pois muito bem. Acontece que aí eu já estava muito feliz e contente, segura de mim, cantando, dançando e adorando minhas fotos. Até que pus a lente e olhei no espelho! Cremdeuspai. Mas tava muito judiada a pobrezinha. Aceita.
Sem que eu falasse sobre isso. Nesse mesmo dia, meu amigo artista contou uma anedota. Era um exercício de autoescultura e ele olhava o retrato e esculpia a peça. As pessoas e até o professor passavam por ele e se impressionavam, de tanto que o trabalho estava parecido. E ele foi fazendo e foi olhando, e julgou que num tava muito bem não. Achou feio e foi dando uma melhorada. No final, sem saber o que havia se passado no interior do aluno, o professor passou um sermão pra turma "ele estava indo muito bem, mas tamanha foi a imersão no trabalho, a concentração, que acabou por atrapalhar e desviar a qualidade" e reduziu a nota. Coisa que o amigo entendeu ser uma lição para vaidade.

E eu passei os demais segundos pensando nisso de beleza e autoimagem. Eu tenho é um medo grande de envelhecer. E uma das coisas é deixar de gostar de mim, de minha imagem. Mas esse dia da lente me fez pensar que é muito mais sobre como a gente se sente do que sobre como a gente se vê. Quando vi no espelho uma imagem que julguei feio foi meio constrangedor, mas logo passou, pq tenho me sentido bem, gosto de quem sou. E esse sentimento tem uma importância muito maior que o apreço pela imagem refletida. O mesmo com outras pessoas. A aparência tem um forte impacto inicial, mas nos segundos seguintes o que importa são as ideias e as emoções que despertam.