quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O cachorro mais sábio que o presidente.

Ah como eu amo cães! Eu sempre amei por amar, por gostar da companhia, de tocar o pelo, de não haver cobranças ou julgamento. Com meu namorado passei a reparar nos jeitos e manias dos animais, é meio que humanizá-los, mas é muito legal e filosófico.
Um dos cães que moram comigo usa algumas táticas para demonstrar suas necessidades. E desde que trocamos o pote de ração deles por um de metal, ele descobriu que lamber o pote vazio faz barulho pra caramba.

Assim, sempre que está com fome ele vai até o pote e começa a barulheira. Até que eu, ou o namorado, deixamos o que estamos fazendo e tomamos a decisão de atender a demanda do amigo. Inspirada nas manifestações costumo brincar que o Gurila agora protesta. Antes de pôr a ração eu afago sua orelha e digo "seu vândalo", em tom sarcástico.

Mas, e se eu não quisesse "obedecê-lo"? E se o barulho me incomodasse, se eu dissesse que essa ação dele é muito mau educada e radical, é uma violência. Se eu quisesse que ele protestasse de outra forma, de uma forma que não me atrapalhasse? Ele poderia muito bem se sentar pacificamente em frente o pote de ração e esperar por horas até o momento da alimentação!

Bem, nesse caso, toda vez que ele lambesse o pote eu iria até ele e xingaria, brigaria, gritaria, oprimiria, poderia prendê-lo no banheiro até que eu decidisse que era hora dele comer. Afinal eu tenho o poder de tomar essa decisão. E desse modo ele iria parar de fazer protesto barulhento, temendo a repressão.

Penso que isso se assemelha aos protestos e manifestações e como estes tem dividido sem razão a população. Tudo bem protestar, desde que seja de branco, com identificação, moças vestidas de saia bem comportada, cartazes com normas ABNT, limite sonoro, respeitando horário de silêncio. Depois que não adiantar, ai poderiam se dizer palavrões. E mesmo que não adiante, como não tem adiantado, como não houve resposta no caso do Instituto Royal, onde ativistas tentaram contato com a empresa, mandaram notícia pro ministério, fizeram manifestação pacífica, rezaram, choraram, empinaram pipa e nada, nenhuma posição da OSCIP (Organização da Sociedade Civil de INTERESSE PÚBLICO financiada pela FUNEP), nem assim se justifica a realização de "atentados terroristas".

Afinal arrancar olhos de cachorro para "pesquisa" tudo bem, mas invadir uma propriedade privada, estourar cadeados, isso não, jamais! Assinar contrato com empresas estrangeiras para entregar trilhões, enquanto pescadores que já não contam com acesso à saúde, educação, cultura podem ter sua atividade comprometida tudo bem, mas tombar carro, jamais! Sumir com pedreiro, uma vez que preto e pobre não faz diferença, tudo bem, mas tampar o rosto em protesto, jamais, cadê sua dignidade, rapaz?!

Os defensores de protestos pacíficos baseiam-se em Gandhi o entusiasta da não-violência. Bem, bem, para início de conversa, olha a Índia. Essa independência não foi assim "uma brastemp". E segundo que, enquanto Gandhi fazia suas admiráveis intervenções haviam protestos populares, não tão pacíficos assim. Porque, é claro, sobram motivos para revolta, eu fico impressionada é de alguém nunca querer quebrar nada, basta ler qualquer livro que traga um mínimo de crítica social para vc sentir vontade de explodir! Por favor leia, sobre justiça ambiental que é atual.

Uma pessoa que admiro muito falou "eles não podem quebrar as coisas, eu não sei qual é desses mascarados, se são pagos pelo governo, se são bandidos que desceram do morro, eu não sei". Como se houvesse algo muito misterioso no ar... eu levantei a lebre "não podem ser manifestantes, que simplesmente se cansaram de não ter resposta nunca, que sentiram a necessidade de ser mais "enfático"?" E aí Estado, não seria mais fácil servir a ração? Isso é se reestruturar para atender interesses sociais, invés de economicistas?

Acho que tem algo muito crucial a ser dito. Ouço pessoas criticarem "eco-terroristas", "feminazis", "ditadura gay", "talibikers" como se representantes desses ideais, que inevitavelmente cobram alguma mudança, fossem loucos, radicais, raivosos, mas será que não está havendo uma resistência muito grande ao "novo". Uma resistência radical, cega, que se agarra no seguro status quo, e critica qualquer medida real de mudança. Será que não é o momento de pensar "essa galera está tão raivosa a ponto de quebrar bancos, invadir institutos, ao ponto de enfiar imagens sacras no próprio cu, deve haver algo que os incomoda muito e que consequentemente deve ser mudado", ao invés de pensar "que vândalo maldito, destruindo tudo, deve ser escorraçado". Não seria melhor servir a ração invés de reprimir o pedido?

Fonte da notícia aqui.
Será que teremos que atear fogo ao próprio corpo (como protestam os monges), não para ser ouvido e ver alguma mudança, mas para pelo menos não haver críticas ao modo "violento" de se expressar, e em defesa à coisas e propriedade privada.

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