quinta-feira, 25 de julho de 2013

Facebook me educa

Aquele senhor admirável já dizia "ninguém educa ninguém, as pessoas se educam juntas"! Ou algo do tipo. Para mim isso é extremamente perceptível no facebook!

Sim, eu sei, tem muita postagem inútil e desanimadora. E por isso alguns criticam ferozmente essa poderosíssima ferramenta. Eu tento defender como posso, nem sempre obtenho sucesso.

Desnecessário dizer que essa revolução (transformação de maneira repentina, visto que brasileiro de classe média protestando é algo incomum) não existiria não fosse essa rede. Não haveria como realizar o chamamento nem a divulgação de imagens, filmes e relatos.

Por minha parte, curti umas páginas feminista que estão me mostrando preconceitos que eu tinha e ignorava!

Foi a sensação que tive ao ler o relato de uma pessoa transexual, que depois de 15 anos da cirurgia mudou seus documentos, certidão de nascimento, RG, CPF, título de eleitor, etc, e foi se candidatar a uma vaga (num cargo baixo) na rede Carrefour.

Tudo certo, pediram que abrisse uma conta no banco, e trouxesse outros documentos como histórico escolar. Feito isso, ela retorna com o histórico, único documento que havia deixado de alterar.

A contratante olha, pede licença, sai por uns minutos, e retorna com a notícia "olha, me desculpe, não há mais essa vaga". Meio confusa, nossa protagonista retorna pra casa. No dia seguinte sua sobrinha te liga e diz. Tia, aqui no jornal de hoje eles ainda estão convocando para vaga que tu tinhas te candidatado!

Eu não sei quanto a você, mas eu tive a oportunidade de viver numa família majoritariamente conservadora e reacionária, e assim era a escola que me alfabetizou. Sempre fui levada a crer que as pessoas são o que são e fazem o que fazem por opção. E como parece ser assim comigo, é muito fácil aplicar essa regra a todos os outros seres humanos, ainda mais por que eu não veria problemas em contratar uma pessoa transexual para trabalhar comigo. Bem, hoje penso que isso é absolutamente ingênuo e romântico.

Pensar que eu só me prostituiria se quisesse, não significa que seja assim com todas as outras pessoas. É uma conclusão baseada em um "n" amostral muito reduzido. Ainda que seja assim com tooodas as minhas coleguinhas, o grupo social, a classe, continua sendo a mesma, o que é muito restrito.

O interessante é que conheço ferrenhos defensores do capitalismo, que devem me julgar romântica, por aspirar um mundo diferente onde os valores sejam outros, devem pensar que eu sou ingênua. Mas, vejam, quem será mais romântico e ingênuo? Os que acreditam que não há injustiça e que todas as pessoas tem iguais oportunidades e condições e que só se prostitui que quer e gosta, ou eu que (agora) reconheço que se existem tantos travestis se prostituindo não é porque seja uma opção deles, é por causa (na maioria) da falta de opção deles?

Interessante pensar num capitalista selvagem como um ser romântico e ingênuo, mas acho que os que eu conheço são assim mesmo... não são maus, são teimosamente ingênuos.

Ninguém se marginaliza por opção. Ninguém sonha em ser usuário de crack, ou se prostituir com 14 anos de idade. Ninguém prefere viver com uma bolsa miserável para não ter que trabalhar. Pensar que todos são livres e vivem como querem, e colocar todos que passam necessidades como merecedores dessas necessidades por não enaltecer o trabalho árduo e o esforço recompensador é uma ingenuidade absurda.

Eu converso com pessoas que são promovidas com altos salários e converso com pessoas que vivem em casas do tamanho de um banheiro, passam fome e frio, e garanto, não há grandes diferenças. A promoção e o salário, mesmo na sociedade da meritocracia, não selecionam o mais apto e o melhor.

Convenhamos, quem não é capaz de preencher uma planilha? Um mês de instrução para alguém que esteja afim e pronto, não exige grandes habilidades. O que significa que aquele engravatado não é em nenhum aspecto melhor, mais inteligente, mais evoluído ou nada do que aquele que mora em um barraco.

Desculpe, sei que para se graduar em contabilidade teve que haver grande empenho e esforço, puxa vida, como houve dedicação, horas em claro estudando. Parabéns pela determinação, mas isso continua sendo inútil para classificar alguém como melhor ou pior ou garantir quem merece trocar de carro todo ano e quem merece morrer de fome.

Aliás, quem garante que aquele que está usando crack agora não seria melhor aluno que tu, e que se tu tivesse nascido com as condições dele não seria um criminoso mais violento? Dói pensar assim, dói pensar que não fizemos nada além de ter tido a sorte de por acaso nascer onde nascemos.  Dói pensar que é uma tremenda ilusão achar que todos tem acesso ao que tivemos. Dói pensar que a história que a Rede Globo mostra do favelado que se formou músico e agora toca na orquestra de Paris é uma raríssima exceção, e somente por isso pode ser apontada.

Mas, se aqui estamos é para agarrar a oportunidade do poder que temos de mudar. E essa mudança começa na maneira de vermos nossa sociedade. Parar de ver como menos nos machuca, tentando loucamente nos proteger de uma possível depressão.

Aliás, se esse é seu medo, saiba que no meu reduzido n-amostral, os que se fecham nessa bolha tentando se proteger dessa visão nua e crua da realidade se deprimem e sofrem mais. Sofrem mais porque entendem menos. Pobre de mim, como sofro. De onde vem essa culpa imensa que eu sinto? Me perguntava sem querer saber a resposta, uma pessoa querida que logo emendava, "é resquício da minha educação católica. Eu estou aqui é para ser feliz".


Mas, não há essa possibilidade quando embaixo do seu nariz ocorre injustiça e opressão. Não existe a menor possibilidade de nenhum ser humano ser feliz adquirindo um produto fruto da maior injustiça social e ambiental que um se pode realizar. Por mais que haja esforço para ignorar esse fato, hoje em dia sabemos muito bem como as coisas são feitas, e sabemos que não seremos felizes, por mais que tentemos, numa sociedade injusta.

A roupa, o carro, o dinheiro e o status são uma ilusão que nos levam a reduzir a existência humana a isso. Conjugo o verbo na primeira pessoa do plural porque ainda fico deslumbrada ao ver uma moçoila num salto alto, bem maquiada, com sorriso cuidadosamente ensaiado, e porque tenho uma fortíssima sensação de que não sou a única...

O dinheiro nada mais é do que um meio. Nunca deveria ser encarado como um fim, porque limita em muito nossa existência e nossa capacidade. Um CEO que produz carros para enriquecer é um tremendo idiota e ignorante. Um governante que vê em uma montadora empregos, investimento (compensação ambiental), e votos, é ainda mais idiota. Produz-se carros para as pessoas se locomoverem, e se todos vissem nisso a finalidade de uma montadora concluiríamos que precisamos de outro meio de locomoção.

Se você pensa em fazer doutorado para virar professor e ter dinheiro garantido, fácil e estável, bem, você vai ser um péssimo professor, assim como um ser humano bastante medíocre e limitado. (E aqui o "você" não é necessariamente você, sou eu mesma!)  Ganhar dinheiro e estabilidade financeira é muito pouco, caro aspirante a doutor, isso tem gente que consegue casando! Como professor universitário, podes fazer muito mais que isso, podes influenciar no rumo da ciência e da sociedade. Mas para isso, seus princípios éticos e morais devem ser bem estruturados e profundos.

O que te motiva?
http://www.youtube.com/watch?v=bIhHrL73d4s

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