segunda-feira, 29 de julho de 2013

Menos saúde e educação.

Interessante, alguns assuntos são inquestionáveis. Mais saúde, mais educação. Existe alguém em sã consciência que se oponha a tais reivindicações? Não, todos estamos de acordo e parece inquestionável a necessidade de investir-se ainda mais nesses campos tão necessários a vida humana.

Mas nada é, nem deve ser, inquestionável. Será mesmo necessário aumentar o investimento nesse sistema de saúde e educação? Será que é isso que precisamos para alcançarmos uma sociedade justa e feliz?

créditos: http://felipa-de-noailles.deviantart.com/
Comecemos pela "educação". Aos seis anos de idade somos convidados a deixar nossas casas e marcar presença, obrigatória, em uma escola. Lá, numa sala fechada, iluminada artificialmente com uma luz fria, somos obrigados a iniciar nosso convívio social com toda a artificialidade do momento. Ninguém sabe muito bem porque está lá. Para os professores de crianças abastadas é para o futuro delas, para que possam "se tornar alguém", ter futuro, e conseguir um bom emprego. Para os de periferia é para afastá-los dos pais ignorantes que certamente o tornarão criminosos caso a escola salvadora não intervenha. Sem discutir o sucesso desses dois objetivos, ainda que sejam alcançados, que os primeiros consigam ser empregados em cargos de comando e os segundos sejam afastados do tráfico, eles serão seres humanos felizes?

Porque temos tanta fé na educação e medo de questionar se de fato sua existência é mesmo necessária. Lembremos que se alimento nasce do chão e água cai do céu, porque temos que aprender álgebra e história para não morrermos de fome? Não seria mais interessante aprendermos a sobreviver no planeta do que no sistema?

Me sinto a vontade de escrever pois cada vez mais percebo que não sou a única a conviver com a sensação de que tem algo errado. Frequentamos a escola, com esforço, e imposta gratidão pela oportunidade. Escolhemos um curso de graduação, como escolhemos o sabor do sorvete, nos graduamos e seguimos sem ter a menor noção de quem somos nós e o que estamos fazendo aqui. Alguns tem mais sucesso em se convencer de que essas perguntas são irrelevantes e não levam a nada, e se convencer da utilidade de seu estudo e seu emprego. Mas, hora ou outra o "bicho pega". E reparamos que se nós não sabemos sequer como nos perguntar essas questões tão importantes a geração futura tão pouco saberá.

A escola serve para garantir a reprodução do que está. Sempre mais do mesmo. E não adianta modernização nas salas de aula, atualização de currículo, aumento na remuneração dos professores. É uma doce ilusão pensarmos que ela serve para formação de seres humanos mais plenos e conscientes. Encarcerar crianças com a obrigatoriedade de sua presença numa instituição é exatamente o que distância nossa existência da plenitude e felicidade, e é onde começa a morte de nossa consciência.

Não sou a única que pensa isso. Isso não é um devaneio. Esse atual sistema me parece mais surreal do que um mundo sem escolas. Aconselho fortemente a leitura desse texto de Daniel Quinn.

Quanto a saúde. Porque as pessoas vão a hospitais? Porque desenvolvem doenças crônicas? Porque sofrem acidentes? Não estaria a causa no nosso modo de vida? Investir cega e massivamente em hospitais é correr atrás do rabo, é remediar efeitos alimentando sua causa. É estúpido.

Na nossa atmosfera circula gases tóxicos saídos das mais inusitadas chaminés e carburadores, constante e diariamente. Nossas águas, além de circularem por essa atmosfera, recebem diretamente efluentes tóxicos. Nossos alimentos crescem em solos, adivinhem só, tóxicos! Sinto muito, mas agrotóxicos não são necessários para aumentar a produção de alimentos e extinguir a fome do mundo, esse argumento é cruelmente inválido. A agroecologia familiar seria muito bem capaz de alimentar a todos. Todos os nossos móveis e utensílios, desde bebê, estão impregnados por substâncias tóxicas (esse documentário Story of Stuffs é muito bacana).

Nossos empregos são estressantes, e muitas vezes totalmente inúteis. Só servem para a existência de salário e para distrair o pensamento de questões como a conveniência da existência de salário! Não dão condição de prática de exercício ao ar livre, fundamental para manutenção de um organismo e mente saudável. Não seria melhor adoecermos menos do que tratarmos mais?

Sobre os acidentes que lotam os hospitais. Automóveis. Nada é mais didático para entendermos nossa sociedade do que esses doces e confortáveis vilões. Poluem o ar, detonam o solo promovendo a mineração, alimentam a indústria petrolífera, escancaram a injustiça social - contribuindo com altos índices de violência, e ainda por cima estão atrapalhando o trânsito! Ah e claro, são chave no entupimento de emergências, por serem manejados por pessoas desequilibradas. Então, contratemos mais médicos, aumentemos seus salários, construamos mais hospitais, e claro, dupliquemos ruas e estradas. Para termos sempre mais do mesmo... Alguém vê algum único sentido nisso?

Todas as soluções óbvias que saem nos jornais, ou circulam no senso comum, são uma louca e desesperada tentativa de manutenção do que está. Lei que torna corrupção crime hediondo. Mas, por Deus do céu, não será tão óbvio isso? Será que precisa alguém dizer que corrupção é crime, outro para discutir o quão foi grave o crime, outro para analisar quanto tempo encarcerado vale para pagar o tamanho do crime, com quantas bananas se paga uma maçã. Estamos correndo atrás do rabo e o remendo está saindo pior do que o rasgo.

Tentamos, tentamos de todo o jeito e com toda a força e boa vontade manter o sucesso desse sistema. Mas, ainda que se haja investimento no sistema atual de educação, e saúde, ainda que a violência urbana e a desigualdade social diminua, ainda que a corrupção se minimize, ainda assim teremos os jovens infelizes do Japão para nos lembrarmos que não basta.

Talvez seja a hora de reconhecer que por mais que tentemos com todo empenho e boa intensão, esse sistema não serve mais. Um sinal disso são todas essas pessoas nas ruas do mundo inteiro. Não é só pelo Cabral, ou só pela Irmandade Muçulmana, ou só pelas medidas de austeridade européia, é sobre a insustentabilidade e ruptura do sistema. E isso não se restringe as manifestações, corriqueiramente assistimos o efeito de negação de mudança, crianças que massacram em escolas, homem que surta assassina e queima dinheiro, tantas e tantas notícias que não representam loucos, representam a loucura do que vivemos. O que é necessário para reconhecer isso? A mim parece tão óbvio, e tão positivo!

Não vou mais pedir por mais "saúde" e "educação", pois podem interpretar como "mais investimento financeiro no sistema educacional e hospitalar".

Vou pedir por lazer e cultura.

Será que o recado será claro o bastante para não sofrer distorções e promover mais do mesmo?

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